Suicídios, crimes, tragédias, crueldade: os temas são sempre os mesmos nestas histórias curtas de Thomas Bernhard, uma das vozes literárias mais originais do século XX.
Suicídios, crimes, tragédias, crueldade: os temas são sempre os mesmos nestas histórias curtas de Thomas Bernhard, uma das vozes literárias mais originais do século XX.
Para quem conhece a obra do escritor e dramaturgo austríaco, o procedimento é até certo ponto familiar: em romances como O náufrago e Extinção, a repetição de descrições e opiniões dos personagens, a nomeação exaustiva e obsessiva de fatores históricos e coletivos parecem ser a única forma de dar conta do desconforto no mundo. Mas, se nesses livros o sentido era obtido por meio da ênfase, daquilo que é dito muito mais que mostrado, O imitador de vozes se guia por um acúmulo mais horizontal e variado de situações, uma sucessão desconcertante de incêndios, enforcamentos, desastres naturais, excursões turísticas mal-sucedidas, brigas por heranças e toda sorte de fatos patéticos contados por narradores que misturam espanto e ironia nas frestas de um registro falsamente neutro.
Ao final, o conjunto acaba apontando para os tradicionais alvos de Bernhard: a sociedade regida pelas aparências, sob as quais se esconde a memória de um tempo caracterizado por catástrofes políticas e sociais, na qual pouco resta ao homem além da consciência e da revolta contra sua própria condição limitada, mesquinha, muitas vezes ridícula.