"Editar o Barbas foi um desafio duplo. O primeiro partiu da decisão do Spacca de seguir a estrutura do livro, e não em apenas criar uma biografia em quadrinhos do monarca. O trabalho da Lili já tinha o mérito de tornar acessível ao público não especializado ideias e teses que iam além do simples relato cronológico da vida do imperador. Mas era impossível, naqueles estágios iniciais, saber se ia dar certo em forma de quadrinhos. Todavia, conforme o material foi chegando, conforme a gente via as páginas, ia ficando cada vez mais evidente a habilidade do Spacca de combinar trama e ideia, narrativa e reflexão, enfim, o que ocorreu durante a vida de Pedro II e a interpretação da Lili para esses fatos. Quando eu percebi que o livro funcionava justamente pela escolha do Spacca em manter aquela estrutura, veio o segundo desafio. Como editor de quadrinhos, acabo trabalhando muito com ficção, mas também com relatos pessoais (Maus, Persépolis), jornalismo ( Notas sobre Gaza ) e adaptações de livros (com obras de Oscar Wilde e Kafka, por exemplo). Mas um livro de história trazia a obrigação de um rigor acadêmico com o qual eu nunca tinha me deparado em quadrinhos. Cada crédito ao lado de cada imagem, cada data, cada citação textual, cada livro, tudo foi visto e revisto à exaustão, com o cuidado para que esse rigor não interferisse de nenhuma maneira na fluência da leitura. No fim, e com a ajuda carinhosa de todos os envolvidos, acho que conseguimos tornar esse processo invisível, que é sempre sua grande ambição como editor. O resultado é um livro que diverte, informa, reflete, questiona, tão bom para se ler na praia quanto numa sala de aula."
André Conti é editor na Companhia das Letras