Trecho do livro ESCONDERIJO

APRESENTAÇÃO Quando mudei de casa, no ano passado, visitei várias lojas de móveis antigos procurando por objetos delicados, como caixinhas de música, bonecas de louça, pratos com desenhos de paisagens, coisas assim. Sempre gostei de álbuns de fotos, livros usados, objetos que trouxessem um tipo de beleza que pertenceu ao tempo dos nossos avós. Certa tarde, visitando um antiquário, encontrei uma cama de criança com uma pintura linda na cabeceira. Era o desenho de uma praia, com gaivotas e um pôr-do-sol maravilhoso. A grande surpresa surgiu quando examinei o estrado da cama e descobri desenhos minúsculos de cavalos-marinhos, feitos a lápis, com traço de criança pequena. Quem escreve gosta muito de imaginar. Mais tarde, em casa, eu não conseguia parar de pensar na história da caminha. Será que a criança que a usara se escondia embaixo dela para desenhar criaturas do mar? Por que será que ela preferia desenhar na madeira, numa posição totalmente desconfortável, e não numa folha de papel? Será que a desenhista queria um esconderijo para seus cavalos-marinhos? Será que os cavalinhos eram como talismãs secretos? Todos esses pensamentos me levaram de volta à minha própria infância, aos meus segredos, brincadeiras e, principalmente, às férias que passei na casa de minha avó, na praia... Será que o sol é o esconderijo da lua? Será que a lua se esconde atrás da montanha? Quando eu era criança, vivia pensando essas coisas. Mar era esconderijo de peixe, e toda floresta escondia passarinho. Meu esconderijo preferido era o cantinho embaixo da escada da casa da minha avó. Ali, eu ficava encolhida ouvindo conversa de adulto. Tentando descobrir todo tipo de segredo que se esconde de criança.