Trecho do livro POR QUE HELOÍSA?

POR QUE HELOÍSA? No dia em que Heloísa nasceu, as horas perderam o tempo. Não se sabia se era dia ou se chovia. As enfermeiras iam e vinham. E o médico até sumiu. Impaciente, achou que podia ir embora. Esse médico deveria saber que quem escolhe a hora de nascer é o bebê. Até que Heloísa, enfim, resolveu aparecer. O doutor ressurgiu na hora H. H de Heloísa. Mas, ao contrário dos outros bebês, Heloísa não chorou quando nasceu. Por que os bebês choram quando nascem? Heloísa não chorou. E o médico ficou preocupado... A mãe ficou preocupada porque o médico ficou preocupado. O pai ficou preocupado porque o médico e a mãe ficaram preocupados. Os avós ficaram preocupados porque o médico, a mãe e o pai ficaram preocupados. A menina dormiu uns dias no hospital. E assim foi o começo de tudo. Conforme Heloísa crescia, não fazia o que as outras crianças faziam. Não sorriu quando fez um mês. Não sentou quando fez seis meses. Não andou quando era hora de andar. Falar, então, nem "angu". E o mais engraçado era o braço. Quando Heloísa queria levá-lo para um lado, ele ia para o outro. Quando Heloísa queria abrir a mãozinha, ela se fechava. Quando Heloísa tentava fechá-la, ela se abria. Para levantar o corpo, Heloísa se contorcia. Mas, afinal, tem hora certa para sorrir, sentar e andar? E aquele braço e aquela mão? Não sabiam obedecer? A mãe, vendo Heloísa assim, toda atrapalhada, ficava triste como quê. Mas pensava: "Se eu ficar borocoxô, quem vai ensinar a ela que a vida é do balacobaco?". E sempre que podia, mesmo com um espinho no coração, sorria para a filha. Cantava para ela todas as noites e a cobria com um lençol de beijinhos. Foi assim que a menina aprendeu a sorrir e a dormir como um ursinho no inverno. Até o leite, que antes rejeitava, agora ela fazia chuc, chuc e até suava de tanto que mamava. Os pais ficavam aliviados.