
Marilda Castanha dá nome ao indizível em seu novo livro
Em ‘Meu nome’, novo livro da autora mineira, a guerra da Palestina é propulsora para um manifesto pela infância das vítimas de conflitos
O lugar mais feliz do mundo é também terra natal da psicoterapeuta dinamarquesa Iben Dissing Sandahl. Isso segundo um estudo feito anualmente pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que, desde 1973, configura o país nórdico no topo do ranking de felicidade. Intrigada, Iben decidiu pesquisar a fundo a sua cultura para entender as razões de tal fenômeno.
LEIA MAIS: Como fortalecer a autoestima das crianças?
Como resultado dessa investigação, nasceu o livro Crianças dinamarquesas – O que as pessoas mais felizes do mundo sabem sobre criar filhos confiantes e capazes (Fontanar), escrito em parceria com a americana Jessica Joelle Alexander.
Iben Sandahl, autora dinamarquesa
O livro é um guia sobre a filosofia de vida do povo dinamarquês, seus valores, costumes e jeitos de ver o mundo. A autora conta que a ideia não é dizer aos pais como educarem seus filhos, mas proporcionar a aproximação com essa cultura que parece ter descoberto o caminho para a felicidade. “Se esse livro ajudar pais e não pais a verem coisas de maneira diferente, ele já é um sucesso”, afirma Iben.
Seis máximas compõem a coluna vertebral da teoria de Iben e Jessica; são as iniciais que formam a palavra "filhos":
F – farra
I – integridade
L – linguagem
H – humanidade
O – opressão zero
S – socialização
Em F (farra), as autoras explicam a importância do livre brincar na infância. O I (integridade) destaca que a honestidade e a franqueza elevam a autoestima dos filhos, levando o elogio a uma mentalidade evolutiva e tornando-os mais resilientes. Já o L (linguagem) aborda a importância da comunicação e do diálogo na formação dos pequenos. H (humanidade) trata do ensino da empatia. O (opressão zero) defende que filhos crescidos em um ambiente democrático e sem disputas de poder são mais confiantes e felizes. Por fim, S (socialização) fala da criação de uma rede relacionamentos mais sólida, o que impactará na vida adulta.
Confira abaixo o bate-papo com a autora.
Iben Dissing Sandahl – Foi empolgante e eu estava ansiosa para mergulhar mais fundo nas raízes da minha herança familiar. Tudo vem da minha experiência individual, e tentei encontrar estatísticas e ciência por trás disso. Foi um processo muito interessante e, aos poucos, o acrônimo (os seis capítulos, a partir da palavra “filhos”) foi sendo materializado. Está aí todo o fenômeno cultural e histórico dinamarquês, a base para uma infância feliz.
Iben Dissing Sandahl – Em uma vida moderna e muitas vezes agitada como a que vivemos hoje, muitos percebem o ambiente natural como perigoso para os filhos. Há muito medo na vida das crianças de hoje – todos os dias somos informados sobre terrorismo, refugiados, tiroteios etc., o que faz muitos pais protegerem seus filhos de todas as coisas ruins que acontecem fora de casa. Dos anos 80 até os anos 2000, a quantidade de horas que as crianças passam em brincadeiras livres, desestruturadas e espontâneas caiu a oito horas por semana. Na Dinamarca, recomendamos que elas brinquem e se movimentem pelo menos 60 minutos por dia. Quando são ativas, elas se desenvolvem melhor e aprendem mais facilmente.
Iben Dissing Sandahl – Não conheço muito, mas recentemente um grupo de oito brasileiras (diretoras de escolas, psicólogas, advogadas, professoras etc.) vieram me ouvir falar sobre como estabelecer limites, ansiedade e a importância da conexão. Elas ficaram todas muito interessadas ao ouvir sobre como poderiam adotar tudo isso com os seus alunos, com a sua escola e com a sua família. Isso me diz sobre uma necessidade de mudança, uma esperança por uma vida melhor para as crianças. Acho que todos esperamos por isso.
Iben Dissing Sandahl – Vejo o livro mais como uma filosofia. Muitos dos meus leitores, inclusive aqueles de lugares onde não há o sistema dinamarquês, já veem as diferenças em seus filhos [ao aplicarem os ensinamentos da obra]. Então eu acredito que é uma filosofia que faz as crianças felizes. Se esse livro ajudar pais e não pais a ver coisas de maneira diferente, ele já é um sucesso. E acho que nós todos podemos mudar, se realmente desejarmos.
Iben Dissing Sandahl – Se você realmente hygger, você não finge de nenhuma forma. Você não se mostra como um "outro". O elemento educacional implícito do hygge é "nós encontramos conforto entre si", nós nos sentimos conectados, salvos e seguros. Quando nos sentimos seguros, fica mais fácil de lidar com as demandas externas e expectativas que a vida cotidiana oferece o tempo todo e nós sabemos que não estamos sozinhos nisso. Quando temos momentos hygge com nossos familiares, todos nos sentimos estimulados e reconhecidos, e isso é uma coisa da qual as crianças sempre se beneficiam. [O hygge ] promove a empatia e a paz interior, fornece uma melhor base para a criança se manter quando se tornar um adolescente, porque você não vai precisar da atenção dos outros.
Iben Dissing Sandahl – Claro, a Dinamarca não é uma utopia, mas teria sido um livro totalmente diferente se eu focasse nos nossos problemas. Mas também temos as nossas questões para lidar – assim como todo país. Acho que as crianças têm opções demais hoje. Estamos estressados tentando fazer com que nossos filhos façam um monte de coisas, e eles ficam irritados se não achamos um equilíbrio.
Em ‘Meu nome’, novo livro da autora mineira, a guerra da Palestina é propulsora para um manifesto pela infância das vítimas de conflitos
A fronteira entre pintar para estampar páginas de livros ou paredes de museu nem sempre está definida. Conheça autores da literatura infantil que vieram das artes visuais
“Refloresta 30 anos de Lalau e Laurabeatriz" fica até 24 de maio na Galeria Página, em São Paulo