Parassocial: a conexão que sentimos com personagens que amamos
Sabe aquele personagem que pode existir só na imaginação, mas que desperta em você uma conexão inexplicável? Como se vocês se conhecessem? Fizemos uma lista de personagens asssim:
Por Antonio Castro
A 17ª edição da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, começou nesta quarta-feira, dia 10. O homenageado deste ano é Euclides da Cunha, cuja principal obra, Os sertões, marcou a história literária brasileira ao relatar o confronto da Guerra dos Canudos e denunciar os crimes cometidos por uma sociedade eurocêntrica, violenta, autoritária, desigual e excludente.
Durante os próximos dias, um grande número de casas parceiras vai promover encontros e debates que ocorrem em paralelo à programação principal em Paraty. A Flipinha e as outras casas com discussões sobre literatura infantil vão ser o foco do Blog das Letrinhas nos próximos dias – aqui começamos o nosso quarto Diário da Flipinha!

As conversas que acompanhamos nesta quinta-feira giraram em torno de temas diferentes, mas terminaram deixando impressões parecidas: a de que podemos ficar otimistas quanto aos avanços que temos feito quando se trata de literatura produzida por mulheres e pessoas negras – mesmo que ainda haja um longo caminho pela frente.
No começo da manhã, um debate promovido pelo Clube Quindim ocorreu na Casa Libre: “Quando o racismo de ontem sobrevive nas edições infantis de hoje: como lidar?”, com a presença da escritora Cidinha da Silva, a escritora e professora Catia Luciana e a editora Mell Brites, com mediação de Lu Bento. Entre os pontos levantados durante a conversa esteve a mudança ocorrida, tanto no mercado editorial quanto nas escolas, depois que a lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas redes públicas e particulares da educação no Brasil, foi promulgada. A produção e presença de autores e personagens negros de fato cresceu – não podemos deixar de notar como a falta de tais personagens na literatura infantil é prejudicial para uma criança que nunca se vê representada nos livros que lê – mas ainda há um longo caminho para percorrer de ambos os lados, principalmente por parte das editoras que devem ser não apenas o veículo de publicação desses autores, mas também um lugar aberto a vozes que não estão presentes em seu entorno.

Também foi discutida a publicação de autores como Monteiro Lobato e outros grandes clássicos da literatura brasileira, mas que possuem traços claramente racistas em sua obra – quem for ler Reinações de Narizinho vai encontrar logo nas primeiras linhas a expressão “negra de estimação” que o narrador usa para se referir à Tia Nastácia, e essa é só a primeira dentre muitas outras existentes ao longo de toda a obra do autor. Lidar com tais contradições é tarefa do editor, e foi unânime entre as mulheres o fato de que ele deve ser publicado de maneira integral, sem corte ou alterações. Mas também é preciso questionar, se colocar no lugar de quem vai ler aquilo e deixar clara a mensagem que está presente naquele texto. Como Cidinha da Silva pontuou, o trabalho de leitura precisa ser feito de maneira alterativa, e não alternativa: o livro deve ser instrumento de mudança para o leitor, dando a ele recursos para se espelhar e mudar a sociedade – e isso ocorre quando ele se vê de fato representado nas páginas que lê.

Nesse mesmo pensamento, a mesa “#KDMulheres? Uma narrativa de representatividade em construção”, promovida pelo programa educativo da Flip, que ocorreu algumas horas depois da Casa Libre, complementa algumas ideias que surgiram por lá. O #KDmulheres? é um coletivo fundado em 2014 por Laura Folgueira e Martha Lopes, com o objetivo de questionar a invisibilidade das mulheres no campo da literatura, nas esferas da publicação, divulgação, cobertura da imprensa e na lista de premiações e festivais. Elas questionaram inclusive o funcionamento e organização da Flip, que poucas vezes homenageou autoras mulheres e só começou a ser mais inclusiva quando uma mulher assumiu a curadoria do evento em 2017. Também pontuaram a necessidade de narrativas que representem e cubram toda a sociedade, em suas intersecções: mulheres LGBTs, periféricas, negras etc.

E uma última conversa, na mesa “De crianças para crianças”, fechou o dia de uma forma especial: uma menina de nove anos, Júlia Bretanha, escreveu dois livros: Manual do vovô legal e Planeta feliz. A vontade de escrever surgiu naturalmente para a pequena que, incentivada pelos pais, tem produzido essas narrativas que refletem seu universo e o que considera importante. Júlia ainda tem muita infância para viver e, como toda criança, quer encontrar livros em que se veja espelhada e representada nas livrarias, escolas e lugares por onde passar – que bom saber que há quem esteja lutando por isso, tanto em Paraty quanto no resto do Brasil.

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