Você conhece o cordel? Já leu algum? Gosta de rimas? Hoje, 19 de novembro, é Dia do Cordelista. A data foi escolhida por ser o aniversário de Leandro Gomes de Barros (1865-1918), considerado o pioneiro e um dos principais artistas dessa arte.
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Na província de Normandia na remota antiguidade viveu o duque Alberto cheio de fraternidade era ele o soberano de toda aquela cidade.
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História de Roberto do Diabo, de Leandro Gomes de Barros, publicado em Heróis e heroínas do cordel, organizado por Januária Cristina Alves
Embora a chegada da literatura de cordel ao Brasil ainda seja desconhecida, sabe-se que eles têm origem portuguesa e inspiração nas novelas medievais de cavalaria, com heróis, heroínas e seus grandes feitos e demonstrações de valor e coragem.
Xilogravuras e impressão artesanal marcam essa arte. Imagem: Heróis e heroínas do cordel, organizado por Januária Cristina Alves e ilustrado por Salmo Dansa
O que é literatura de cordel?
De tradição oral e raízes que remontam também às histórias árabes, os cordéis se popularizaram no Nordeste brasileiro, onde a musicalidade dos versos e a arte de contar oralmente foram “sopa no mel”, como diz a especialista Januária Cristina Alves. "Do final do século XIX a meados do XX, a literatura de cordel representou para as classes pobres (...) o que hoje é mais ou menos a internet para todos nós", conta o artista Antonio Nóbrega no posfácio do livro Heróis e heroínas do cordel, organizado por Januária Cristina Alves e publicado em novembro pela Companhia das Letrinhas . Além de histórias de aventura, romances e entretenimento, os cordéis registravam e disseminavam informações que não chegariam de outra forma a uma parte dos habitantes das regiões rurais naquele tempo. A rima e o ritmo ajudavam o texto a ser mais compreensível e fácil de decorar. Segundo a pesquisadora Ivone da Silva Ramos Maya declarou em uma reportagem publicada sobre a literatura de cordel no jornal digital Nexo, em 2017, "trata-se de algo muito importante para a literatura brasileira”. Grandes nomes do nosso cânone literário, como Guimarães Rosa, Graciliano Ramos e Manuel Bandeira "se referem à influência do cordel", explicou, na época, a especialista. "Tem grandes novelas de cavalaria francesa em cordel, contos de As mil e uma noites, passagens da mitologia grega… É algo espetacular.”
Características do cordel
Embora possa variar bastante, eis as principais características do cordel:
- Musicalidade e oralidade
- Métricas e rimas
- Temas políticos
- Temas populares;
- Utilização de humor, ironia e sarcasmo;
- Foi importante forma de registrar de difundir notícias
- Ilustrados com xilogravuras e impressos de forma artesanal
Conforme explica Januária nesta entrevista publicada no Blog da Letrinhas: "A arte tem isso de maravilhoso, ela se atualiza. No primeiro momento, eram folhas soltas, amarradas por cordas. Poucas cópias. O interessante era que o povo tivesse acesso. Hoje se mantém o formato das rimas, mas não é mais o único, tem ali o texto em prosa, mas se mantém o formato de folhetos, xilogravuras e feiras populares. Mas no cordel de hoje, como no de ontem e sempre, a matriz é a mesma: personagem interessante, boa história e cenário. E o suporte não é nem mais a xilo, o papel jornal, mas está em outras mídias, como YouTube, instagram, podcast. Se modernizou, por isso sobrevive também, porque se adapta". A rima do cordel é, inclusive, um atrativo à parte e em grande medida responsável por sua popularização e grande difusão em meados do século XX. Baseadas na oralidade, musicalidade e ritmo, as rimas facilitavam que as histórias -- e até notícias, como a especialista conta neste artigo publicado no jornal Nexo -- fossem decoradas. Também deram origem às "pelejas", ou batalhas de rimas, muito parecidas com os slams que conhecemos hoje em dia. “Essas batalhas - as pelejas - sempre foram o grande atrativo [do cordel], até porque, para entrar na peleja, precisa saber improvisar e isso é um talento”, conta Januária.
Cordel é literatura para crianças
“Criança pequena ama, porque é ritmo, rima, poesia. Tem cordel de tudo, de conto de fada, de terror...", explica Januária, ressaltando que os pequenos gostam, inclusive, de se aventurar nas rimas: "E quando você lê, você quer experimentar, porque é rima, temos a musicalidade na alma brasileira…”. Para Januária, o cordel precisa ser apresentado às crianças ao lado da literatura para a infância, ocupando o lugar que já é dele, afinal, é uma manifestação literária. “As histórias de tradição oral são nossas, vamos nos apropriar delas, reconstruir e recontar. São nosso inconsciente coletivo”. diz ela. Ela defende que esse tipo de literatura esteja nas casas, no acervo que montamos para as crianças, mas também nas escolas, que os educadores possam apresentar aos pequenos essa arte, considerada Patrimônio Imaterial Cultural Brasileiro desde 2018 pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
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