Coleção Canoa: livros de qualidade a valores acessíveis

24/06/2022

Livros infantis com a qualidade literária e estética do grupo Companhia das Letras, mas com um preço mais acessível para chegar ao maior número de leitores e, ainda por cima, que celebram a cultura brasileira. É com esta proposta que surge, na esteira das comemorações de 30 anos da Companhia das Letrinhas, um novo projeto editorial: a Coleção Canoa. Com preço de capa unitário sugerido a R$ 9,90, os quatro primeiros títulos encantam com as rimas de cordel e o bom-humor da escritora recifense Mari Bigio e a colorida paleta do paulistano Rodrigo Chedid, do Bicho Coletivo. O lançamento ocorre durante a Bienal internacional do Livro de São Paulo.

Capas dos livros de Mari Bigio e Rodrigo Chedid que inauguram a Coleção Canoa,

Os quatro livros que inauguram a Coleção Canoa, com histórias divertidíssimas e uma ilustrações bem coloridas e ricas em detalhes

Como uma canoa que adentra rios e igarapés, a ideia da nova coleção é ter essa capilaridade de leitura entre crianças e adultos, especialmente aqueles que gostam de narrativas da cultura brasileira e que também adoram descobrir novos autores e artistas (alguns com um caminho já bem consolidado na produção cultural). "Estou bem feliz de embarcar nessa Canoa que pretende chegar onde os navios de grande porte nem sempre chegam. É uma metáfora bonita e significativa pra mim, que venho do Cordel, outrora Jornal do Sertão, que informou e até alfabetizou pessoas nos cantos mais remotos do Brasil", diz Mari Bigio, que é cordelista, musicista, contadora de histórias e youtuber.

Para chegar a este formato, um grande estudo sobre materiais e formatos foi feito desde 2021 pela equipe editorial e a de produção gráfica, no sentido de tornar possível uma coleção que inovasse, mas sem deixar para trás nenhuma das premissas que consolidaram a Companhia das Letrinhas como um selo editorial preocupado com a qualidade visual e textual. “Nós definimos antes qual seria o preço de capa máximo e, a partir disso, fomos pesquisando o que fazer para viabilizar. Toda a equipe envolvida no projeto abraçou a causa do acesso ao livro”, conta Gabriela Tonelli, que edita a coleção ao lado de Antonio Castro.

“Tornar a leitura mais acessível é uma grande missão mesmo! Especialmente num país tão desigual como o nosso. Precisamos popularizar as histórias, porque assim a gente populariza o poder de agir sobre o mundo”, comenta Rodrigo.

Acredito muito no poder dos livros e das histórias. Acho que uma história bem contada transforma a gente e que as crianças merecem ser tratadas como gente que pensa e que se transforma também. É importante desafiar o mundo onde elas estão crescendo. (Rodrigo Chedid, ilustrador)

Por que Canoa?

O nome da coleção vem de duas inspirações complementares. A primeira dialoga com a própria logomarca de alguns dos selos da Companhia das Letras, representados por meios de transporte (bicicleta, avião, calhambeque...), e vem com o propósito de chegar onde os outros livros nem sempre chegam, que é às classes econômicas C e D. A segunda tem a ver com o próprio formato da coleção, que é conhecida no meio editorial como “canoa” e que consiste em capa e miolo serem grampeados – o que, por si só, já traz uma redução de custos para outros formatos.

Ilustração do livro Uma carta para o pirata, de Mari Bigio, pela Coleção Canoa

Ilustração de Uma carta para o pirata, livro da Coleção Canoa que fala de um pirata que não sabia nadar e queria agradar a mãe

 

Histórias que fazem rir e subvertem expectativas

Os primeiros quatro títulos – A bruxa do breu, Uma carta para o pirata, A sereia garbosa e Aliens, a lição – são assinados pela cordelista, musicista e contadora de histórias Mari Bigio, e trazem personagens conhecidos do imaginário infantil em aventuras apresentadas em rimas. A cadência e o ritmo facilitam a leitura em voz alta, remontam à nossa tradição oral e agradam leitores de todas as idades, principalmente aqueles em fase de alfabetização, ou que estão se arriscando nas primeiras leituras.

O que a Coleção Canoa tem de especial é essa missão de tornar muito acessível essa diversão – e tratar a diversão como experiência transformadora, não apenas entretenimento. Acho que os leitores vão dar muita risada, com certeza. Mas também vão terminar e voltar à leitura com uma perspectiva mudada, mais sensível ao outro e a si mesmo. E mais livre também. Eu espero que todos os leitores se divirtam tanto quanto eu me diverti ao desenhar essas histórias e que as crianças que lerem, quando se tornarem adultas, se lembrem com carinho desses livros (Rodrigo Chedid, ilustrador).

Com muito bom humor e irreverência, Mari Bigio conta histórias inusitadas, como a de um pirata que não sabe nadar e que quer impressionar a mãe, a de uma sereia cantora lírica que quer mesmo é ser uma rockstar, a de uma bruxa que sonha aparecer na TV e a dos alienígenas que vêm a Terra exigir que sejam melhor representados nos filmes. Os finais são surpreendentes e quebram estereótipos.

“As crianças precisam muito ouvir histórias que subvertam as expectativas e as regras implícitas, que mostrem a elas que, seja de onde for que elas venham, as coisas não precisam ser o que sempre foram. Acho que isso tem mais efeito pra criança se for feito com bom humor. Porque criança quer mesmo é rir, né? E, pra rir, não é preciso debochar do outro. É isso que eu acho bacana do texto da Mari Bigio”, comenta Rodrigo. “É um texto engraçadíssimo, uma história divertida, que te faz ver as coisas de um ponto de vista inusitado, mas sempre humanizando o outro”, completa ele.

Página do livro Aliens, a lição, da Coleção Canoa

Página do livro Aliens: a lição, no qual os extraterrestres chegam à Terra para cobrar uma melhor representatividade nos filmes

O trabalho de ilustração foi feito em conjunto com o projeto gráfico do estúdio Bicho Coletivo, do qual Rodrigo é um dos sócios. “A gente escolheu fazer ilustrações muito coloridas e páginas duplas cheias de informação. E desenvolveu uma paleta de cores e um projeto gráfico que unificasse a coleção”, conta ele, que também deixou easter eggs dos livros pelas páginas. “A história já trazia muita personalidade, tinha esse ar despretensioso, os personagens estranhos e toda essa brincadeira de subverter os arquétipos da cultura pop no cordel. Eu fui tentando fazer ilustrações que seguissem o tom engraçado do texto. Me conectei comigo mesmo criança, pensando que tipo de desenho ia me fazer dar risada, mas também me intrigar. Criança gosta de rir e de ter medo também, de coisas fofas e de coisas nojentas na mesma proporção. Elas sabem lidar muito bem com tudo isso. Eu gostava de personagens malucos e de monstros assustadores. No final, busquei um estilo meio cartum, fiz esses personagens caricatos, com as expressões bem engraçadas, com traços soltos e mesmo desconstruídos, pra deixar livre também a interpretação e a imaginação das crianças”, explica ele.

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