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Livro lançado após sua morte (2012) mostra a ironia fina do autor de 'Onde Vivem os Monstros', só que, desta vez, já a partir da criança bem pequena
Qual é o seu propósito de vida? Ou quais, já que dá para ter mais de um? Você pode ainda ter um grande propósito, formado por vários propósitos menores - como cada degrau de uma longa escada. Estabelecer um objetivo e traçar o caminho para alcançá-lo é uma ótima maneira de tirar nossos desejos e ideais do papel. Mesmo que ele possa parecer distante, ter um propósito e persistir nele é importante para fomentar sonhos e ajudar a nos tornar quem somos, sendo condição fundamental para a construção de nossa subjetividade e identidade - e isso começa desde a infância.
Ajudar as crianças a persistir em seus desejos e a ter objetivos maiores, mesmo que tenham de enfrentar a frustração de não conseguir rapidamente, é benéfico para o desenvolvimento cognitivo e o processo de conhecerem a si mesmas - e há muitas maneiras de auxiliá-las nesse aprendizado de vida, inclusive com a literatura.
A protagonista desta história ouviu que não conseguiria mudar o mundo, mas decidiu ouvir a si mesma em Talvez você consiga
Todo propósito começa com uma vontade, uma aspiração. E mesmo que o primeiro passo seja pequeno, como uma semente, a exemplo do livro Talvez você consiga, de Imogen Foxell e Anna Cunha (Pequena Zahar), o importante é exercitar a persistência e acreditar em si mesmo. Quando parecia impossível mudar o mundo, a protagonista, que é "apenas" uma menina, acreditou na voz interior que soprava em seu ouvido: "talvez você consiga". E conseguiu. Foi com paciência e cuidado que a menina foi driblando a aridez e a tempestade, fazendo o desejo crescer e se tornar realidade.
É verdade que nem sempre nossos ideais se concretizam. Pelo menos não na primeira tentativa. Que o diga a turma do Clube do Pepezinho, de Dav Pilkey . No terceiro volume da série, Nanda, Melvin e seus irmãos tentam descobrir um propósito e têm algumas ideias.... No entanto, nem tudo sai como planejado e eles precisam lidar com uma palavra difícil de ouvir quando temos expectativas construídas: “não”.
Mas não é apenas o Clube do Pepezinho que busca um “propósito". Essa palavra tem aparecido com cada vez mais frequência, não apenas nos livros, mas também nas conversas, na escola, nas redes sociais - sem esquecer dos coachs, discursos good vibes e todo tipo de conteúdo motivacional. Colocando de lado o uso indiscriminado de "propósito" - que ignora a existência de tanta gente que não tem direito a condições mínimas que lhes permitam sonhar ou desejar algo -, ter um propósito é importante porque está intimamente ligado à felicidade.
Quando temos um objetivo definido, temos um norte e motivação para seguir em determinada direção - ou como diria o sábio gato de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll: "Se você não saber aonde quer chegar, qualquer caminho serve". Ter um propósito dá sentido à vida. Ajuda a tomar decisões, a persistir e também a se conhecer - e aprender! - no caminho.
No livro Talvez você consiga, de Imogen Foxell e Anna Cunha, uma menina acredita que pode mudar o mundo
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E não estamos falando apenas de grandes desejos: viajar o mundo, comprar uma casa, ser presidente, construir uma família. Nem de desejos como algo imutável. “Um propósito não é único, nem universal. Precisa ser pensando a partir da perspectiva comportamental, já que é altamente flexível e depende tanto do coletivo, ou seja, do ambiente no qual a pessoa está inserida e que molda seus comportamentos, como das crenças particulares”, explica a psicóloga infantil Luana Neves, da Lumos Cultural (SP). Isso significa que hoje você pode ter um propósito e amanhã ter outro, conforme a vida se desenrola. Saber ajustar os rumos - e repensar se aquilo que deseja ainda faz sentido - também é parte do processo.
No terceiro volume de Clube do Pepezinho, de Dav Pilkey, Nanda, Melvin e seus irmãos vão descobrir a importância de persistir nos seus objetivos
Segundo a especialista, um propósito pode ser constituído por pequenos propósitos. Assim, fica mais fácil dar um passo de cada vez e ter mais motivação. Ao cumprir pequenos objetivos, vamos nos sentindo realizados e capazes - e isso nos dá força e ânimo para continuar! Esse princípio pode ser aplicado ainda na infância, com o apoio de adultos, como pais e professores. Auxiliar a criança a descobrir seu propósito e comemorar com ela as pequenas conquistas desse caminho pode ajudá-la a desenvolver habilidades como resiliência e persistência.
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Os propósitos (ou os minipropósitos que formam um objetivo maior), em geral, se desenvolvem a partir das habilidades de cada um - e isso vale inclusive para as crianças. Os pais ou professores podem conduzir os pequenos nessas reflexões sobre o que querem alcançar e quais são os possíveis caminhos para chegar lá, apoiando a criança a identificar seus próprios gostos e habilidades. O que ela sabe fazer? Quais são as atividades preferidas dela? O que pode aprender com elas? Quais habilidades ela já tem? Quais ainda precisa desenvolver?
Ter um propósito também é uma forma de estimular a curiosidade, o planejamento e até o desenvolvimento de habilidades. A pergunta clássica que toda criança escuta, sobre o que vai ser quando crescer, é uma forma de pensar em um propósito. Não apenas como profissão, mas no sentido de realização: “O que você gostaria de mudar no mundo? O que gostaria que fosse diferente? O que você pode fazer para que isso aconteça?”. São perguntas que geram conversas e reflexões e que, aos poucos, podem ajudar na formação de um propósito maior.
Ilustração do livro Talvez você consiga, que fala sobre propósito e persistência
No entanto, é preciso certo cuidado para não forçar a criança a criar um propósito ou acabar moldando as escolhas dela. É mais importante ajudá-la a ouvir a si mesma. “Devemos nos preocupar em não destruir os desejos intrínsecos que as crianças têm, porque o propósito pode ser colocado - por empresas, propagandas, religiões e adultos - em substituição aos desejos próprios”, alerta o psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura, especialista em psiquiatria infantil pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-FMUSP) e presidente do comitê de adolescência da Associação Paulista de Medicina. “Por exemplo, historicamente, as mulheres eram obrigadas a ter filhos para fornecer mão de obra para a guerra dos senhores feudais, dos poderosos; as pessoas eram manipuladas a morrerem na guerra em nome do outro. Eram criados propósitos artificiais”, exemplifica.
É importante prestar atenção e ajudar a criança a descobrir se ela está fazendo o que deseja ou se busca seguir esse caminho para mostrar ou provar algo aos outros - inclusive para os pais e professores, que costumam ser os adultos de referência. Ajudar os pequenos a descobrirem seus própios propósitos não pode se tornar uma pressão ou uma moeda de troca por afeto. E, muitas vezes, esses limites são tênues.
“O propósito é um substituto de algo maior que se chama self [termo da psicanálise que designa o indivíduo como ele se vê, representado em sua própria consciência], ou seja, a pessoa que tem desejo próprio, que tem os seus próprios planos para a vida. Só que o propósito, muitas vezes, é um desejo emprestado a ela”, alerta. Somos influenciados por muitos fatores: nosso trabalho, os meios de comunicação, nossos relaciomentos. Reconhecer o que é nosso e que vem de fora é importante para estabelecer propósitos que possam nos trazer felicidade legítima - e não nos perdermos com a realização de expectativas alheias.
Segundo o especialista, é muito fácil também confundir o propósito com metas - algo perigoso especialmente em um mundo onde o sucesso é ligado à produtividade. “Uma vez, atendi a uma paciente adulta, que já era muito bem-sucedida na vida, tinha conquistado tudo o que queria e não tinha mais motivação para viver”, conta o psiquiatra. Ela tinha cumprido todas as suas metas - o que não quer dizer que ela tinha um propósito. Era preciso ajudá-la a reconhecer os próprios desejos, e a consolidar uma forma de encontrar motivação além das metas. “O propósito é útil, mas é secundário. A felicidade, o êxito, não é aquilo que se vai alcançar no fim da viagem. É o que está ali, ao longo da viagem”, define.
No Clube do Pepezinho, Nanda tem uma ideia para ficar milionária e comprar uma máquina de sorvete: escrever um livro! Ela envia a obra para uma editora com a certeza de que seu plano vai dar certo... Mas recebe uma negativa e precisa aprender a lidar com isso. Soa como a vida real?
Ter um propósito - ou mesmo estabelecer metas - não é garantia de que o caminho será mais fácil. Lidar com a frustração - e talvez até precisar ajustar a rota ou o destino final - faz parte dos processos de crescimento de todos nós. Estabelecer um propósito, persistir, falhar, corrigir são ações de um ciclo sem fim. “É ter avaliação e jogo de cintura constantes, ainda mais quando se trata de pequenos indivíduos”, diz a psicóloga Luana. “Todo esse processo de descoberta do propósito pode ser gradual e envolver exploração, tentativa e erro", aponta.
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Também é preciso prestar atenção para que a busca pela realização de um propósito também não passe a atrapalhar, mais do que ajudar. “Deve-se ter todo cuidado para que esses propósitos não se tornem uma busca excessiva e tenham um impacto negativo, fazendo com que outras importantes áreas da vida sejam negligenciadas”, recomenda a psicóloga. “Para isso, precisamos sempre considerar inicialmente como mensurar e avaliar a evolução desses pequenos propósitos escolhidos como metas”, acrescenta. Equilíbrio é a chave.
Procurar um propósito pode ajudar as crianças a entenderem quem elas são, de onde vieram e para onde vão. Mas o importante mesmo é aproveitar a jornada para aprender e se divertir - conhecendo mais sobre si mesmo, sobre o mundo e colecionando erros - que, com sorte, serão sempre novos!
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