O menino Dong-Dong prefere brincar sozinho. Ele está procurando novas bolinhas de gude e acaba encontrando um saco de bolas-balas um tanto peculiares - e “bem docinhas”, garante o vendedor. Cada uma tem um tamanho e uma estampa diferentes. Assim que o menino prova a primeira bala, algo mágico acontece: ele começa a ouvir novos sons… As balas dão voz ao que nem sempre pode ser dito. E, a partir disso, Dong-Dong experimenta diálogos inusitados e sensíveis, que nos convidam a olhar para o outro, a exercitar nossa empatia e a reconhecer nossa humanidade. Assim éBalas Mágicas (Companhia das Letrinhas, 2022), de Heena Baek, uma das autoras infantis mais relevantes e reconhecidas da atualidade. Ela foi a primeira sul-coreana a receber o prêmio Alma - Astrid Lindgren Memorial Award, em 2020, e suas obras já foram traduzidas para vários idiomas. Pela Companhia das Letras, Baek também publicouPicolé de lua (Companhia das Letrinhas, 2023) e A mamãe do pintinho (Companhia das Letrinhas, 2024).
Balas Mágicasfoi o primeiro livro da autora a ser publicado no Brasil. E foi adaptado para a telona em um curta de mesmo nome, que está concorrendo ao Oscar 2025 na categoria Melhor Curta de Animação. A história foi adaptada em 3D, em uma animação produzida pelo estúdio japonês Toei Animation e dirigida por Daisuke Nishio. O filme levou quatro anos para ficar pronto e a autora participou ativamente do processo, trocando impressões com a equipe de produção. No making-of da animação (assista abaixo), Baek conta que quando viu pela primeira vez o protagonista, Dong-Dong, pediu à equipe que ele tivesse uma postura mais encurvada, mais fechada, para refletir sua personalidade mais tímida. E foi atendida.
Conheça os bastidores da publicação de 'Balas Mágicas' no Brasil
Balas Mágicas chegou ao grupo Companhia das Letras por meio da ARA Cultural, uma agência especializada em literatura coreana, que é também um grupo de tradução coletiva. “Foi em nosso primeiro encontro para discutir literatura coreana, com Luis Girão (agente literário e tradutor da ARA Cutlural e Professor de Literatura Coreana pelo Departamento de Letras Orientais da USP), que li Balas Mágicas pela primeira vez”, lembra a editora Gabriela Tonelli. “Foi paixão à primeira vista para todo mundo”, completa.
Capa deBalas mágicas(Companhia das Letrinhas, 2022) , da autora sul-coreana Heena Baek
A Companhia das Letras já havia publicado obras de Suzy Lee, conterrânea de Baek, como Onda (Companhia das Letrinhas, 2017) e Sombra (Companhia das Letrinhas, 2018). E para Gabriela, foi muito importante ter trazido outra autora sul-coreana tão promissora e reconhecida. “A Coreia é um país muito forte na produção de literatura ilustrada, tanto para crianças quanto para adultos. E Baek é uma autora importante, que tem crescido muito”, comenta.
O processo de tradução e adaptação de Balas mágicas para o Brasil foi muito natural e ficou a cargo da própria ARA Cutural. “Como eu não falo coreano, toda vez que tenho alguma dúvida, quero fazer uma troca de uma palavra ou vejo uma expressão traduzida que não está tão fluida, falo diretamente com o Luis para tentarmos encontrar um melhor caminho e não interferir na tradução de maneira indevida”, comenta a editora.
Depois de comer uma bala malhadinha, Dong-Dong tem um diálogo curioso com seu cachorro em Balas mágicas (Companhia das Letrinhas, 2022)
Quando a Companhia adquiriu os direitos de publicação de Balas mágicas, junto com Picolé de Lua, Gabriela se dedicou a pesquisar os processos de criação de Baek, investigando como ela produz as esculturas de personagens, as cenografias e as fotografias. “Ela tem esse diferencial de trabalhar com tantas estéticas artísticas diferentes. Acho impressionante como, em cada obra, ela traz não só no texto, mas no visual, um clima tão adequado à narrativa”. Para Balas mágicas, Baek produziu e fotografou os bonecos que dão vida à narrativa. Já em Picolé de lua, ela trabalha com dioramas, e em A mamãe do pintinho, com ilustrações. Essa multiplicidade de técnicas, formatos e materiais tornam Baek uma autora e artista singular.
Baek tem um cuidado, uma delicadeza em abordar qualquer acontecimento nas narrativas - seja dolorido ou não. Ela tem uma clareza de falar sobre o que sentimos, mesmo quando o que a gente sente é difícil. E nos proporciona reflexões, tanto como indivíduos, tanto como sociedade”. Gabriela Tonelli, editora
A animação de Balas mágicas ainda não está disponível no Brasil, mas é possível conferir o trailer abaixo: