COP 30: vamos falar sobre educação climática sem gerar ansiedade?

10/11/2025

Começa nesta segunda, 10 de novembro, a 30ª edição da COP, a Conferência sobre o Clima convocada todos os anos pela Organização das Nações Unidas, a ONU. É a primeira vez que a COP acontece na Amazônia - um marco simbólico. Mais especificamente em Belém (PA), reunindo lideranças globais, pesquisadores e cientistas, empresas privadas e representantes da sociedade civil comprometidos em buscar soluções para frear a crise climática e seus efeitos. Serão 15 dias de COP, com representantes de 200 países marcando presença e discutindo pautas que podem determinar o futuro de todos nós. 

 

A marcha das baleias

A marcha das baleias (Brinque-Book), de Nick Bland com tradução de Lígia Azevedo

Por isso, nas escolas, falar sobre a COP e sobre as pautas que estão na mesa é tão importante. “A COP é mais do que um tema pontual, é preciso trabalhá-la em sala de aula de forma contextualizada com o território e o meio em que os estudantes estão inseridos. Todas as lideranças que assinaram o acordo de Paris vão estar aqui. Haverá discussões sobre como levar o financiamento climático a países do sul global - o que pode impactar diretamente regiões pobres e especialmente alunos da rede pública”, explica o professor João Bosco Verçosa. Ele é educador e divulgador científico, fundador do perfil  @heyciencia que conecta a educação básica às ciências e discussões sobre a agenda climática global. João também atua na formação de professores em consultorias pedagógicas, ajudando outros educadores a trabalharem a questão climática. E ainda foi um dos bolsistas da Latin America Youth Climate Scholarship, um projeto que visa incluir jovens latino-americanos negros, indígenas e de outras minorias em espaços internacionais de discussão sobre o clima. 

 

Entendi que a gente e precisa contextualizar, territorializar e racializar o ensino - não há educação climática sem justiça social”, João Bosco Verçosa

 

Mas muito antes disso, ele já vivenciou na pele os efeitos da crise climática. Filho de agricultores, ele cresceu no interior do Ceará, na cidade de Marco, na Vila São José. “A gente vivia da subsistência do clima. Meu pai corria para plantar em dezembro, para colher em março, abril. Em novembro, meu pai já começava a contar as nuvens para saber quando poderia plantar. A gente dependia do clima para tudo”, lembra. 


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Como levar a educação climática para a escola


Para João, por mais que se trate de um evento, não basta tratar da COP de forma pontual - como às vezes acontece com a Copa do Mundo ou as Olimpíadas. As discussões sobre a emergência climática precisam estar presentes de forma contínua e transversal. “O ideal é que seja algo incluído em todas as disciplinas. E nós conseguimos fazer isso dentro das habilidades propostas pela BNCC [a Base Nacional Comum Curricular], pensando no currículo escolar que a gente já aplica”, ressalta. 

Ele conta também que observa como as mudanças climáticas e as perspectivas para o planeta já afetam os estudantes. Muitos sofrem com a ecoansiedade, nome dado à angústia gerada pelas mudanças climáticas e seus efeitos. Outros, já tiveram suas casas afetadas por enchentes ou veem o bairro se alargar por qualquer chuva. E aí vem mais um desafio: como trabalhar a educação climática sem gerar desesperança e ansiedade? Para João, o primeiro ponto é colocar os alunos enquanto agentes de mudança, ocupando o centro das discussões. “É importante pensar em construir projetos em que seja possível para os alunos atuar, fazer pequenas intervenções no entorno. A gente quer mostrar que eles devem participar das discussões e não apenas assistir outras pessoas discutindo o nosso futuro”, explica. Outro ponto importante para os educadores é tentar entender que tipo de informações chegam aos estudantes, o que eles sabem e o que querem saber, para pensar na melhor forma de apresentar informações contextualizadas para o território e a realidade deles.

“Eu gosto muito de trazer o exemplo do saneamento básico. Não adianta só o professor explicar o que é uma estação de tratamento de água e esgoto. Muitos alunos, no caminho para escola, passam por lixão, por um esgoto a céu aberto. Cabe ao professor, ajudá-los a construir uma visão crítica que permita compreender que o acesso ao saneamento básico está ligado à sua condição financeira, que é uma questão de justiça social”, explica. 

Para ele, a literatura pode ajudar na educação climática tanto a partir de obras que abordam o tema de forma bem direta - como o livro A marcha das baleias, que você encontra logo abaixo - ou como disparador de discussões que possam levar à questão climática a partir de outros temas. Há livros, por exemplo, falando de questões de moradia e de justiça social - como Da minha janela (Companhia das Letrinhas, 2019),  de Otávio Junior e Vanina Starkoff, ou Aporofobia (Companhia das Letrinhas, 2024), de José Carlos Lollo e Blandina Franco - que rendem bons ganchos para falar das populações mais vulneráveis aos efeitos da mudança do clima. Há ainda as leituras que contam sobre outras visões e modos de se relacionar com a natureza, como várias obras de autores indígenas que você encontra no final desta matéria. Para os professores, João ainda recomenda: “Vale procurar uma formação continuada, encontrar grupos de discussão, formar coletivos. Os professores precisam incluir a educação climática em suas práticas o mais rápido possível”, alerta. 

 

Veja livros que podem ajudar a abordar a educação climática na escola 

 

Que planeta é este? (Pequena Zahar, 2024), de Eduarda Lima

Que planeta é este?

A energia acaba de repente. Um apagão. Os celulares não funcionam, nem os computadores, muito menos a internet. Desconectadas de tantas distrações, as pessoas redescobrem o olhar para o mundo. Por meio dos livros, exploram novas paisagens: a aurora boreal no norte, os corais da Austrália… E ao final, debaixo do mesmo céu,  a cidade e seus habitantes parecem encontrar uma reconexão com a natureza. 


A marcha das baleias (Brinque-Book), de Nick Bland com tradução de Lígia Azevedo

A marcha das baleias

As baleias invadem a cidade grande. Andam de trem, lotam os restaurantes, se sentam para ler o jornal no banco da praça e, claro, acabam gerando muita confusão! Mas o que será que fez esses grandes cetáceos deixarem as águas salgadas? A resposta é um alerta para a necessidade de zelarmos pelos oceanos e pelo planeta. 


Converseiro da natureza (Companhia das Letrinhas, 2025), de André Gravatá e Kammal João

https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9786581776978/converseiro-da-natureza?utm_source=blog-da-letrinhas&utm_medium=blog-letrinhas&utm_campaign=converseiro-da-natureza&utm_id=COP-30-vamos-falar-sobre-educacao-climatica-sem-gerar-ansiedade

Você escuta? Quando prestamos atenção, conseguimos ouvir a natureza. No barulho ou no silêncio, sempre há algo a se decifrar, mas para isso, é preciso estar atento. Com poesia e delicadeza, o convite é para estarmos abertos a escutar.


LEIA MAIS: André Gravatá fala sobre poesia e natureza


O quintal da minha casa (Companhia das Letrinhas, 2021), de Fernando Nuno e Bruno Nunes

O quintal da minha casa

No quintal dessa casa tem de tudo. Tem sol e tem chuva. Tem planta de todo tipo, bicho de toda espécie, gente muitos perfis. Mas há um grande problema: andaram mexendo nesse quintal. O que será que está acontecendo? E será que podemos consertar?


O ano em que criei o mundo do zero (Escarlate, 2025), de Janaina Tokitaka, Pedro Aguilera e Guilherme Bethlem

O ano em que criei um mundo do zero

A Terra está com os dias contados. Ada, de 12 anos, e Nico, de 17, são filhos dos cientistas que têm uma missão: transformar uma das luas de Júpiter em um mundo habitável para a população que não conseguirá mais viver em solo terrestre. Mas são as duas crianças que acabam assumindo essa tarefa. Como será o mundo que os irmãos criarão?


Clube Verde e a Liga dos Solos, como tudo começou (Escarlate, 2025), de Morgana Kretzmann e Paulo Scott

clube dos solos

 Quatro amigos que não se desgrudam criam juntos o Clube Verde e recebem uma grande missão: resgatar um membro da Liga dos solos, formado por seres milenares com poderes especiais.O sucesso da missão determina o futuro da humanidade!  

 

Livros de autoria indigena

TanãMak, uma guerreira mura (Brinque-Book 2025), de Marcia Mura e Raquel Teixeira

https://www.companhiadasletras.com.br/livro/9786556541471/tanamak-uma-guerreira-mura?utm_source=blog-da-letrinhas&utm_medium=blog-letrinhas&utm_campaign=tanamak-uma-guerreira-mura&utm_id=COP-30-vamos-falar-sobre-educacao-climatica-sem-gerar-ansiedade

As tradições e a infância do povo Mura, um grupo indígena que vive principalmente entre as bacias dos rios Solimões, Amazonas e Madeira, são apresentadas por TanãMak, uma guerreira corajosa que já fugiu até de onça quando ainda era uma cunhantãe, uma criança corajosa. 

 

A pororoca (Brinque-Book, 2024), de Cláudia A. Flor D'Maria e Liu Olivina

A pororoca

O fenômeno do encontro das águas do rio com o mar é um espanto. Passa arrastando tudo. Assombra. Fascina. Mas depois que se acalma, a paisagem se transforma. Com ritmo, força e mistério, a pororoca é o fio condutor para que se revelem a cada página  as paisagens da floresta amazônica e seus seres encantados. 

 

Kabá Darebu (Brinque-Book, 2002), de Daniel Munduruku e Maté

É com sabedoria e poesia que o menino Kabá vi nos contando sobre a forma de ser e estar no mundo do povo Munduruku. Ouvir o rio. Observar o voo dos pássaros para ter notícias do céu. Decifrar as estrelas… Um convite para se abrir e observar o que nos cerca.


Maqueira de tucum (Pequena Zahar, 2025), de Márcia Kambeba e Michelle Cunha

Maqueira de Tucum

Para os indígenas da aldeia Tuyuka, a maqueira, ou rede, é um símbolo importante. Não é só lugar de dormir e de descansar, mas principalmente de ideias e histórias. Emoa, uma jovem cheia de alegria, era a contadora de histórias oficial da aldeia. Mas um dia uma epidemia silenciou a voz dela. E de seu túmulo,  uma palmeira chamada tucum floresceu. 


 Biguru (Companhia das Letrinhas, 2025), de Eva Potiguara e Lumina Pirilampus

Biguru

A menina Biguru observa atenta os movimentos de sua avó, Susana. Como pode uma mulher em um corpo tão miúdo abrigar tamanha força? Com delicadeza, voltamos à infância de Biguru, marcada por uma relação tão íntima com a terra, nas mãos da avó que moldava o barro, e pelas memórias que a conectam de forma profunda com sua ancestralidade.


O lago pri pri (Companhia das Letrinhas, 2025), de Trudruá Dorrico e Martina Carvalho

O lago pri pri

Tudo começa quando um homem macuxi se encontra com uma mulher do povokasna', um povos de aves que se alimentam de restos. Eles se casam e ela decide levá-lo para o reino dos céus, pois quer que ele conheça seu pai. Mas não vai ser fácil conseguir que ele aprove o genro. Assim, tem um início uma aventura cheia de reviravoltas em que sobrevoamos as tradições dos macuxi., 

 

 Kuján e os meninos sabidos (Companhia das Letrinhas, 2024), de Ailton Krenak e Rita Carelli

Kujan e os meninos sabidos

Dois meninos sabidos são os únicos que reconhecem o Criador, que decidiu descer à Terra para espiar suas criaturas de perto. O problema é que, para passar despercebido, ele assume a forma de um kuján, um tamanduá. E, se não fossem os meninos sabidos, virariam um belo jantar para a aldeia…

 

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