Trecho do livro LEMONY SNICKET

NA POSIÇÃO DE REPRESENTANTE OFICIAL DE Lemony Snicket para todos os assuntos legais, literários e sociais, muitas vezes sou solicitado a responder perguntas difíceis, mesmo quando estou com pressa. As perguntas que tenho ouvido com mais freqüência nos últimos tempos são: 1. Quer fazer o favor de sair do meu caminho? 2. De onde veio Lemony Snicket: autobiografia não autorizada, de Lemony Snicket? As respostas a essas perguntas são histórias muito longas, e só há espaço aqui para responder a uma delas. A origem da Autobiografia não autorizada é um tanto quanto críptica - uma palavra que aqui significa "enigmática" -, mas a história começa com uma carta que recebi recentemente dos editores deste livro. Caro Sr. Handler, começava a carta, Entramos em contato com o senhor, representante oficial de Lemony Snicket para todos os assuntos legais, literários e sociais, em razão de um assunto muito enigmático - uma palavra que aqui significa "misterioso" - que capturou nossa atenção. Tudo começou há não muito tempo em nossa sede. Como o senhor talvez possa se lembrar, nossa sede está localizada em um alto e imponente edifício, com um amplo e imponente saguão onde um imponente porteiro de meia-idade, que usa um casaco de tamanho exagerado para ele, fica em pé à entrada, para encaminhar os visitantes ao elevador. Naquele dia em particular, o porteiro de plantão era um homem que por vinte e sete anos vinha mantendo um diário acurado, onde anotava cada detalhe de sua vida com caneta esferográfica ou, na falta dela, já que não havia papelaria por perto, com um pedacinho de carvão. Ele escolhera trabalhar no saguão do edifício onde ficava nossa sede na esperança de que publicássemos seu diário. Sempre que pessoas da editora entravam no edifício, o porteiro as saudava com um sorriso e um aperto de mão, e então enfiava furtivamente entre as mãos do interlocutor algumas páginas de seu diário, esperando que fossem lidas, e que, de porteiro, fizessem-no autor. Certa manhã olhei para as folhas amarrotadas e sujas de carvão que ele me dera, e uma palavra me chamou a atenção: SNICKET Como você pode imaginar, todos nós da editora estávamos bastante preocupados com Lemony Snicket desde que seu obituário fora publicado n'O Pundonor Diário. É claro que só porque você lê alguma coisa impressa em uma página, isso não significa que ela seja verdadeira, mas ainda assim estávamos aguardando alguma notícia sobre Lemony Snicket e seu trabalho no caso Baudelaire, portanto imediatamente desamassei as folhas do diário e as li, enquanto o elevador me levava até o escritório. Querido Pecuário, começava o diário, continuou a carta, Hoje foi um dia muito frio e pungente, tão frio e pungente quanto uma taça de chocolate quente, se à taça de chocolate quente tivessem acrescentado vinagre, e se ela tivesse sido posta na geladeira por várias horas. Fora o tempo, o dia estava tão normal quanto um bando de focas aladas passeando de monociclo, se você mora em algum lugar onde isso é normal, até que uma pessoa misteriosa - uma palavra que aqui significa "arcana" - entrou pela porta giratória. A pessoa misteriosa era uma mulher, pelo menos tão alta quanto uma cadeira pequena e provavelmente tão velha quanto alguém que freqüentou a escola maternal muitos anos atrás. Estava totalmente vestida com peças de vestuário, e nada trazia nos pés a não ser um par de meias e sapatos. Ela lançou um olhar desesperado pelo saguão do edifício, que estava tão vazio quanto uma colméia depois que as abelhas foram expulsas de lá, e então jogou um maço de papel nas minhas mãos e começou a falar numa voz que me lembrava nitidamente a voz dela. A mulher explicou que os papéis lhe tinham sido entregues por um estranho, que contou a ela a seguinte história: Em um dia muito frio, não faz muito tempo, um cavalheiro idoso conhecido meu me levou para jantar em um clube localizado em uma parte da cidade de que eu nunca ouvira falar. O cavalheiro idoso conhecido meu tinha sido membro do clube na época em que morou na cidade, por isso era sempre bem-vindo toda vez que fazia uma visita. O clube ficava em uma enorme e imponente mansão, pintada de verde e decorada com uma grande e imponente insígnia entalhada na porta. [...]