Trecho do livro POESIA 1902-1917

Mote: Teus olhos, contas escuras, São duas Avé-Marias Do rosário de amarguras, Que eu rezo todos os dias. [Augusto Gil] Glosa Quando a dor me amargurar, Quando sentir penas duras, Só me podem consolar Teus olhos, contas escuras. Deles só brotam amores, Não há sombra d'ironias, Esses olhos sedutores São duas Avé-Marias. Se acaso a ira os vem turvar, Fazem-me sofrer torturas E as contas todas rezar Do rosário d'amarguras. Ou se os alaga a aflição, Peço p'ra ti alegrias Numa fervente oração Que eu rezo todos os dias. Lisboa - Março, 1902 Mote: Um adeus à despedida Glosa Quem nunca se despediu Pode julgar-se feliz, A pessoa que assim diz É porque sempre sorriu. Mas se outra dor a feriu - A da morte desvalida Que deixa maior ferida De saudade e de amargura Maior do que essa tortura - Um adeus à despedida. Abril, 1902 Mote: Não posso viver assim! Glosa Mina-me o peito a saudade. Haverá maior tormento, Ou um veneno mais lento Que turva a felicidade, Que vence a própria vontade, Que quasi nos mata enfim? Este que me fere a mim Foi causado pela sorte, Foi cavado pela morte... Não posso viver assim! 27-4-1902