![](https://cdl-static.s3-sa-east-1.amazonaws.com/blog/artigo/6832/thumbnail/mauricio-santana-dias-apresenta-bambino-a-roma-novo-livro-de-chico-buarque-trata-se-de-um-duplo-retorno-ao-passado.png)
Mauricio Santana Dias apresenta “Bambino a Roma”, novo livro de Chico Buarque: “Trata-se de um duplo retorno ao passado”
O consagrado tradutor e professor fala sobre o novo romance de Chico, que mistura ficção às memórias da infância do autor
Por Alice Sant'Anna
Provavelmente tinha alguma coisa na água. Isso talvez pudesse explicar por que 1930 foi um ano tão marcante para a literatura brasileira, quando coincidiram os lançamentos de Libertinagem, de Manuel Bandeira, Poemas, de Murilo Mendes, e Alguma poesia, de Carlos Drummond de Andrade. Este último, publicado numa tiragem de 500 exemplares quando o poeta de Itabira tinha 28 anos, foi resultado de algumas compilações prévias que não chegaram a vir a lume. Entre essas reuniões, temos notícias de pelo menos três: Teia de aranha, Os 25 poemas de triste alegria e Preguiça (como o título sugere, porém, o terceiro sequer foi organizado). Houve mais uma coletânea, de 1926, Minha terra tem palmeiras, agrupada a pedido do amigo e correspondente imprescindível Mário de Andrade – a quem Alguma poesia, quatro anos mais tarde, seria dedicado. Mas Mário não era o único a ter Drummond em alta conta: Bandeira já o considerava como “um dos três ou quatro maiores poetas do Brasil”. A expectativa pelo livro de estreia, portanto, era grande, e grande também foi a recepção.
Alguma poesia contém alguns dos versos mais icônicos da lavra drummondiana, como os de “Poema de sete faces”, “No meio do caminho” e “Quadrilha”. Em Alguma poesia – o livro em seu tempo, lançado pelo Instituto Moreira Salles em 2010, Eucanaã Ferraz afirma que as muitas faces dos poemas ali reunidos revelam a multiplicidade e a intensidade dos temas tratados pelo poeta ainda em formação. Estão ali o tédio, a melancolia, a ironia, a polêmica, a crueldade. Na onda tardia do modernismo, um Drummond ainda “tímido e inexperiente” – como o próprio se definiu em carta a Mário – deixou a sua assinatura no livro que daria início a uma das obras mais adoradas do cânone nacional. No poema abaixo, Armando Freitas Filho presta homenagem ao poeta mineiro, eternizado na estátua da praia de Copacabana: “sentado de costas/ para o horizonte, acolhe a todos/ que durante os dias o procuram”.
CDA DE ATLÂNTICO E BRONZE
Armando Freitas Filho
Não é do costumeiro bronze
que exalta as estátuas
nem do mármore consagrador.
É rico em ferro anímico lavrado
na sua Confidência, há tanto tempo.
O pedestal que eleva é dispensável.
Bastante é o banco ao nível do mar
e dos homens onde, sentado de costas
para o horizonte, acolhe a todos
que durante os dias o procuram.
Difícil é vê-lo só, e mesmo assim
de longe, nós o acompanhamos.
Muitas vezes tiram os seus óculos
por ganância ou lembrança.
Logo os repõem para que não perca
de vista quem passa e precisa
da presença de sua eternidade.
Alice Sant'Anna participa hoje de um bate-papo sobre o livro Alguma poesia com Leonardo Gandolfi e Marília Garcia. O Café com Poesia Especial Dia D acontece às 19h30 na Livraria da Vila Fradique, em São Paulo. Saiba mais.
Alice Sant'Anna é editora da Companhia das Letras e autora de Pé do ouvido.
O consagrado tradutor e professor fala sobre o novo romance de Chico, que mistura ficção às memórias da infância do autor
Depois de uma estreia premiada com o romance “A palavra que resta”, Stênio Gardel compartilha os bastidores de “Bento vento tempo”, seu primeiro livro ilustrado
Companhia das Letras é a editora brasileira com mais títulos presentes na lista, com 31 livros