Pergunte ao Editor: Jornalismo Literário e clássicos da Penguin-Companhia

04/01/2017

 

Em dezembro de 2016, convidamos nossos leitores a deixarem suas dúvidas sobre o mercado editorial aqui no blog. Hoje, Matinas Suzuki Jr. responde às perguntas sobre a coleção Jornalismo Literário e o selo Penguin-Companhia.

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Lucas LaranjeiraSou um fã das obras publicadas pela Companhia. Gostaria de saber qual é o critério para que um livro entre na coleção Jornalismo Literário.

?Nós procuramos editar textos clássicos da história do jornalismo que possuem excelência de qualidade narrativa, fazendo com que sejam peças jornalísticas que perdurem, independentemente dos fatos que geraram a reportagem ou o ensaio.

Fico em dúvida do motivo de um livro como A mulher do próximo não ser da coleção, ou Pela bandeira do paraíso, por exemplo, e um livro como O jornalista e o assassino fazer parte da coleção.

?Você tem razão, de fato são livros que poderiam estar na coleção, enriquecendo-a. Mas a Companhia das Letras começou a publicar os autores Gay Talese e Jon Krakauer antes do lançamento da coleção (em 2001), portanto parte dos livros deles ficaram fora da Jornalismo Literário. Como um texto clássico e de referência para todos e estudos e reflexões sobre a atividades da imprensa, acho plenamente justificável que o livro mais famoso da Janet Malcolm esteja na JL.?

Também não entendi a razão de retirarem da coleção o livro Na pior em Paris e Londres. Gostaria de saber o critério utilizado.

?Neste caso, houve a opção de se fazer uma Coleção George Orwell, com identidade própria, na medida em que ele é também autor de livros de ficção de grande sucesso, como A revolução dos bichos e 1984.? Muitas vezes como parece se este o caso , os motivos de certas decisões editoriais não ficam muito transparentes para os leitores, e estamos aqui justamente para tentar esclarecer esse tipo de dúvida. 

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ErlangueiroE o futuro da Penguin-Companhia? O selo parece meio abandonado e quase não tem novidades.

Nosso primeiro critério para a publicação de um clássico da literatura internacional no selo Penguin-Companhia é a tradução. Não vale a pena editar um livro importante da grande literatura mundial se não tivermos uma boa tradução para o português do Brasil. O segundo critério são os aparatos: além de uma boa tradução, temos um bom cardápio com notas de rodapé, introdução, posfácio etc., para incluir na edição? Nesse aspecto, edições internacionais de clássicos da Penguin nos ajudam muito, pois elas têm um amplo e qualificado material para os aparatos. É claro que também avaliamos a oportunidade de mercado para lançar um clássico, como ocorreu com Doze anos de escravidão, um dos grandes sucessos de venda do selo.

Não consigo identificar qual a origem da sua percepção de que o selo Penguin-Companhia parece "abandonado". Ele está vivíssimo. Em 2016, por exemplo, começamos as edições das obras de Shakespeare em novas e premiadas traduções. Lançamos Sátiras e outras subversões, uma edição de inéditos do Lima Barreto (autor homenageado da Flip 2017), fruto de um grande trabalho de pesquisa do organizador Felipe Botelho Corrêa. Fizemos uma edição caprichadíssima dos Sonetos de amor, de Camões. E trouxemos para o leitor uma edição primorosa do texto de Macunaíma, de Mário de Andrade, feita pela pesquisa do ISEB, que detém os arquivos do autor. São apenas alguns exemplos, para não fazer uma lista muito grande. E, em 2017, o selo Penguin-Companhia está com uma programação bastante forte.

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Matinas Suzuki Jr. é diretor executivo da Companhia das Letras e coordenador da coleção Jornalismo Literário. 

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