Qual a importância das histórias de boca?

28/07/2017

 

 

Antes mesmo dos livros, surgem as histórias. Aquelas de boca, contadas antes de dormir, ao pé do fogão, no colo de uma avó, como é o caso da origem das narrativas que integram o livro Histórias de antigamente, de Patricia Auerbach. Ou aquelas que nascem de uma observação ou uma situação, a exemplo de A cicatriz, escrita por Ilan Brenman.

Se Histórias de antigamente revela as lembranças que a escritora guarda de seus tios e avós, A cicatriz traz uma narrativa que surgiu depois de uma vivência do autor com uma das filhas. O ocorrido inspirou Ilan a escrever uma história que fala da importância de nossas marcas – na pele ou não. Ambas as obras guardam o poder das palavras para além do livro; surgem da convivência cotidiana.

Uma boa narrativa parte de um pequeno detalhe e reverbera como uma pedra em um lago, lembrando de outras histórias que armazenamos há tempos. “O que me interessa são as formigas, não são os elefantes”, diz Ilan. A cicatriz é um exemplo desse fenômeno, como bem percebe Patricia. “As histórias brotam." Conta que o seu livro é como uma cicatriz emocional, já que lembra de momentos que guarda com carinho.

A potência de uma boa história sempre vai além do esperado. Ilan lembra que o procurou uma mãe cujo filho tinha sofrido um acidente e perdido um dedo. Não queria mais ir à escola. Um dia, leu A cicatriz. “Quero ir à escola”, concluiu, após uma semana, “contar a história da minha cicatriz para os meus amigos”. É a literatura infantil para além do colorido.

Os autores também criticam essa obrigação de felicidade que parece, muitas vezes, imposta à criança, como se não houvesse lugar para a tristeza ou para a angústia na infância. Defendem uma literatura e uma educação que considerem momentos difíceis, áridos ou turbulentos. "A gente tem que ter clareza que a criança é também um ser humano, e bem complexo", explica Ilan.

Além disso, as histórias de boca ensinam o valor do passado, em uma época em que só o futuro parece importar. Patricia vai além: "Acho que há uma desatenção com o presente, de parar, estar ali, naquele momento." Nesse sentido, há uma grande diferença entre um relato de Facebook de um amigo e uma lembrança que brota numa conversa com o avô. Há o poder da convivência, de estar no aqui e no agora.

Confira mais no vídeo acima, que traz um bate-papo entre os autores.

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