Mergulhar no tempo das cerejas, por Meritxell Hernando Marsal
Meritxell Hernando Marsal compartilha sobre os desafios do processo de tradução de "O tempo das cerejas"

Os oitos anos que Barack Obama ficou na Presidência dos Estados Unidos foram marcados por muitas leituras. O presidente, que deixa a Casa Branca no dia 20 de janeiro, ressaltou que "os livros foram fonte de ideias e inspiração, ajudando a apreciar as complexidades e ambiguidades da condição humana". A declaração foi dada a Michiko Kakutani, uma das mais respeitadas críticas literárias, jornalista do New York Times.
Fizemos uma seleção dos livros do Grupo Companhia das Letras lidos por Obama durante esses anos:
Entre o mundo e eu, de Ta-Nehisi Coates
Ta-Nehisi Coates é um jornalista americano que trabalha com a questão racial em seu país desde que escolheu sua profissão. Filho de militantes do movimento negro, Coates sempre se questionou sobre o lugar que é relegado ao negro na sociedade. Em 2014, quando o racismo voltou a ser debatido com força nos Estados Unidos, Coates escreveu uma carta ao filho adolescente e compartilha, por meio de uma série de experiências reveladoras, seu despertar para a verdade em relação a seu lugar no mundo e uma série de questionamentos sobre o que é ser negro na América.
Omeros, de Derek Walcott
Poeta mulato das Antilhas, prêmio Nobel de literatura de 1992, Derek Walcott escreveu um poema destinado a permanecer entre os mais belos e instigantes deste século. Em Omeros, se o mar e os negros pescadores de Santa Lucia fornecem a matéria-prima, um vasto arsenal de imagens, ritmos e texturas tropicais, são os arquétipos da Ilíada e da Odisseia, as personagens míticas de Aquiles, Helena, Heitor e Filoctete (além do próprio Homero, encarnado num pescador cego, de nome Sete Mares), que definem as linhas mestras do poema. Misto de poesia, mito, romance e roteiro de cinema, Omeros é também uma meditação sobre questões cruciais do mundo contemporâneo.
O décimo primeiro mandamento, de Abraham Verghese
Depois de se conhecerem no navio que os levou da Índia para o Iêmen, o médico inglês Thomas Stone e a freira carmelita Mary Joseph Praise se reencontram num hospital em Adis Abeba, capital da Etiópia. Da união proibida entre os dois, nasce um par de gêmeos unidos pela cabeça, e operados em seguida. Para completar o cenário dramático, a mãe morre no parto e o pai desaparece no mundo, deixando os meninos nas mãos de um casal de médicos missionários. Comparado aos grandes romancistas do século XIX, Verghese esbanja talento ao costurar literatura e medicina numa trama apaixonante e impossível de largar, como mostram os milhares de livros vendidos.
Quente, plano e lotado, de Thomas L Friedman
Em Quente, plano e lotado, Friedman lança também um desafio aos Estados Unidos, para que liderem a revolução energética. Mas ele prevê que os BRIC - países em desenvolvimento acelerado, como Brasil, Rússia, Índia e China - também podem inovar, liderar e lucrar. Ele discute, por exemplo, como será a fazenda brasileira "inteligente" do futuro e os desafios e as lições da China, que conseguiu banir sacos plásticos de um dia para o outro. Corajoso e inovador, o livro traz uma noção singular dos desafios para o futuro.
A mulher foge, de David Grossman
Por temer receber a notícia da morte do filho, que serve no exército, Orah foge para o norte de Israel, levando consigo Avram, um amigo e antigo amante que conheceu quando jovem no setor de isolamento de um hospital e que, mais tarde, foi severamente torturado pelos egípcios na guerra de Yom Kipur, em 1973. A consequência dessa experiência, para ele, foi uma vida inteira de negação, frustração e niilismo. É no limite de Israel e no limite de si mesmos que Orah e Avram descobrem um ao outro, a si próprios e a sua condição de israelenses irreversivelmente exilados.
O que é o quê, de Dave Eggers
Verdadeiro épico de privações e provações inacreditáveis, O que é o quê narra a história de Valentino Achak Deng, nascido em Mairal Bai, no sudoeste do Sudão. Sobrevivente do ataque que dizimou sua família e seus amigos, Valentino se lança numa fuga desesperada rumo à Etiópia aos sete anos. Logo encontra um grupo de meninos perdidos, com quem percorre mais de mil quilômetros a pé, em geral à noite, para escapar dos bombardeios e do ataque das milícias. Depois de três anos num campo de refugiados etíope e dez num campo queniano, emigra em 2001 para os Estados Unidos e conhece Dave Eggers, que transforma sua história em livro.
Terras baixas, de Joseph O’Neill
No início de 2006, Chuck Ramkissoon é encontrado morto nas profundezas de um canal em Nova York. Em Londres, o jovem executivo holandês Hans van den Broek fica sabendo da notícia e passa a rememorar sua improvável amizade com esse homem enigmático, original de Trinidad, que tentava ganhar a vida em Nova York das mais diferentes formas. Era uma amizade que floresceu num momento difícil da vida de Hans. Sua mulher Rachel o havia deixado logo após 11 de setembro, levando com ela seu filho pequeno, e ele não via perspectivas para o futuro. Perdido em um país que considerava seu novo lar, Hans acabou encontrando conforto de uma forma inusitada: participando de um pequeno clube de críquete - esporte que ele praticara quando criança - formado apenas por estrangeiros da Ásia e das Antilhas.
Meritxell Hernando Marsal compartilha sobre os desafios do processo de tradução de "O tempo das cerejas"
Rádio Companhia apresenta "As narradoras": minissérie em áudio sobre vozes literárias femininas do século XX
Como se preparar para a Conferência do Clima, que este ano acontece em Belém