Mergulhar no tempo das cerejas, por Meritxell Hernando Marsal
Meritxell Hernando Marsal compartilha sobre os desafios do processo de tradução de "O tempo das cerejas"
Inspirada pela vivacidade da cultura brasileira, a artista plástica Joana Lira ilustra o livro O Arqueiro, de Paulo Coelho, publicado pela primeira vez no Brasil pela editora Paralela. Nascida em Recife, Joana sempre busca trazer um olhar ampliado sobre a arte, cultura e diversidade em seus desenhos, o que se refletiu num arqueiro agênero, composto por pinceladas que seguem o movimento do arco e da flecha e mergulhado na brasilidade de nossas raízes indígenas e afro-brasileiras. Nesta entrevista, a artista conta como foi o processo criativo das ilustrações para o livro e suas principais inspirações.

Foto: Flávia Valsini
Como você escolheu os materiais, a cor e a técnica para as ilustrações? Você tinha uma visão clara desde o início ou precisou testar diferentes métodos?
JOANA LIRA: Desde o início, havia o desejo que o traço se expressasse em gesto de pincelada, fazendo uma alusão à maneira como uma flecha se comportar ao ser solta de um arco: com desejo de precisão, porém também abraçando o acaso. Pra chegar ao resultado final do traço, precisei testar algumas técnicas. Comecei pelo estudo à mão livre, com pincel embebido em nanquim, depois digitalizei as artes no intuito de ter mais mobilidade para criar a composição de cada página. A cor amarelo-ouro foi uma sugestão do designer Alceu Nunes, parceiro neste livro, muito bem recebida por mim. Foi dele também a ideia de mantermos o preto como cor-potência do livro.
Além da história, o que mais te inspirou para desenvolver esse projeto?
JL: Me inspirou imensamente a liberdade criativa para minha interpretação do livro concedida pela editora, a ideia de haver um projeto gráfico cuidadoso e principalmente o direcionamento para que as artes desenvolvidas tivessem fortes características de brasilidade.
Como a imagem do arqueiro das ilustrações, que é agênero e tem raízes indígenas e afro-brasileiras, se desenvolveu?
JL: Todo trabalho artístico é um recorte, uma interpretação de um olhar único, mas é também uma ferramenta poderosa de reflexão para colocar foco de luz em questões latentes da atualidade. Por esse motivo, escolhi trazer este arqueiro amplo, sem privilegiar um gênero específico e dando lugar também ao que temos de mais poderoso e bonito na formação do nosso país: nossas raízes indígenas e afro-brasileiras.
Houve alguma mensagem do livro que te guiou durante o processo criativo?
JL: Sim. Há duas frases no livro que foram bem marcantes e inspiradoras para meu processo criativo acontecer:
Quando o arqueiro estica a corda, pode ver o mundo inteiro dentro de seu arco.
Jamais deixe de soltar a flecha se a única coisa que o paralisa é o medo de errar.
Durante o processo, houve algum desafio para você?
JL: Ilustrar é sempre um desafio, mas confesso que o processo desse livro se deu de maneira muito fluida e prazerosa.
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