Chegou aquele tão aguardado momento do ano de conhecer os 30 Melhores Livros da Crescer 2022. Anualmente, um júri especializado, formado por professores, pesquisadores, escritores e mediadores de leitura faz uma curadoria da literatura para a infância produzida no país e seleciona 30 títulos de maior relevância para o segmento. Quem tem crianças em casa, é educador ou simplesmente adora acompanhar o que se tem publicado no Brasil para crianças e jovens têm aqui uma oportunidade de ouro. Afinal, uma mãozinha de quem entende do assunto é um baita presente na hora de rechear as estantes com literatura infantil e juvenil.
Na seleção 2022, foram 52 jurados, que escolheram as melhores dentre as obras publicadas no ano anterior. Dessa vez, o Grupo Companhia das Letras aparece na lista com 14 títulos de três selos infantis – Companhia das Letrinhas, Pequena Zahar e Brinque-Book.
Os títulos, que você confere a seguir, são uma divertida seleção do que publicamos por aqui em 2021. Tem autores brasileiros, clássicos estrangeiros, inéditos no catálogo e até primeiras publicações de gênero de grandes autores, como é o caso de Anthony Browne, que pela primeira vez nos brindou com um counting book.
Companhia das Letrinhas
1) De passinho em passinho, de Otávio Júnior, ilustrado por Bruna Lubambo
Um dos marcos inesquecíveis do catálogo Letrinhas de 2021, De passinho em passinho registrou a primeira vez em que o passinho, dança popular nascida nas comunidades cariocas, foi tema de um livro ilustrado infantil. Misto de livro ilustrado e informativo, a história apresenta as principais categorias de passinho, como o sabará, o brega funk e a rabiscada, para que o leitor possa praticar e levar esse movimento adiante. Da mesma forma que fez em Da minha janela, seu último livro, Otávio Júnior traz para o centro de discussão a vida e a cultura dos jovens que vivem nas comunidades brasileiras.
Não é só uma dança. Para muitos jovens, é uma religião (Otávio Júnior, na ocasião do lançamento do livro De passinho em passinho)
2) O dia em que meu prédio deu no pé, de Estevão Azevedo, ilustrado por Rômolo D’Hipólito
E se um belo dia (ou nem tão belo assim) as casas, as escolas e até os museus resolvessem zarpar do país em sinal de protesto pela condição em que vivem? É essa a brincadeira deste livro, em uma poderosa metáfora contra o abandono das grandes cidades, a especulação imobiliária e a falta de valorização do patrimônio histórico e cultural. O livro também trata da relação cada vez mais distante do homem com a natureza e o meio ambiente e da urbanização descontrolada dos grandes centros.
Este é um prato cheio para quem adora aquele tipo de livro ilustrado que encanta todas as idades, do neto à avó. Humor para as crianças, engajamento social para os adultos e diversão garantida para todo mundo.
O Brasil tem muitas histórias que não deram nada certo e que é preciso consertar. Eu quis apostar na esperança de que histórias tristes como essa podem ser reescritas de uma maneira mais feliz e mais justa (Estevão Azevedo)
3) Barco de histórias, de Kyo Maclear, ilustrado por Rashin Kheiriyeh
Barco de histórias, da autora canadense Kyo Maclear e da premiada ilustradora iraniana Rashin Kheiriyeh, marcou a estreia das duas autoras na Companhia das Letrinhas, e é uma poderosa narrativa sobre a situação de refúgio, contada pelos olhos de duas crianças. A partir de um texto poético, de metáforas sutis e de uma narrativa visual potente e lúdica, acompanhamos a jornada de duas crianças e do grupo de refugiados desde a saída da sua terra natal, incluindo as dificuldades que enfrentam durante o percurso, o acampamento que montam para descansar e a expectativa que dá o tom de cada passo, combinada à esperança de um futuro melhor.
4) Os invisíveis, de Tino Freitas e Odilon Moraes
Com essa dupla na criação, só podia nascer uma obra-prima. Escrito e ilustrado por dois grandes nomes da literatura para a infância, Os invisíveis é uma obra-provocação, que convida o leitor a desautomatizar o olhar para as diversas invisibilidades que perpassam o dia a dia. Idosos, pessoas em situação de rua, trabalhadores, crianças e muitos outros grupos podem se tornar invisíveis quando não são percebidos.
A sensibilidade da obra amplia as muitas leituras possíveis que se pode ter da realidade social em nosso país. Uma curiosidade bacana é que o padre Júlio Lancellotti, reconhecido por seu trabalho em prol das populações sem moradia na capital paulista, indicou Os invisíveis durante o sermão de uma de suas celebrações, no mês de lançamento do livro, em agosto de 2021.
5) Rio, o cão preto, de Suzy Lee
Primeiro livro da prestigiada artista coreana Suzy Lee – referência no gênero livro-imagem –, em que a história é narrada também com palavras, Rio, o cão preto é um retrato sensível da adoção de um cãozinho. Uma das curiosidades que circunda o livro é que esta é uma história real, que aconteceu com a família da autora, quando ela adotou um cachorro. Vale destacar também que a tradução da obra foi feita diretamente do coreano, em parceria com o coletivo ARA Cultural, referência em pesquisa de literatura coreana no Brasil.
6) Rã e Sapo são amigos, de Arnold Lobel
O ano em que o premiado escritor e ilustrador norte-americano Arnold Lobel (1933-1987) é publicado pela primeira vez no Brasil certamente é um grande ano. Em 2021, o primeiro livro do autor best-seller e traduzido em dezenas de países chegou aos leitores brasileiros. Com tradução do escritor Guilherme Semionato, a obra é uma coletânea de cinco histórias que contam as aventuras de uma simpática dupla: Rã e Sapo, dois amigos inseparáveis, embora muito diferentes – um quase sempre sorridente e efusivo e o outro introspectivo e melancólico. Os contos passeiam com delicadeza por temas dos mais diversos do cotidiano infantil, e conseguem o feito raro de se conectar imediatamente com os pequenos, com muito humor e inteligência narrativa.
7) Achou?, de Aline Abreu
A literatura para bebês vai muito além do livro de banho, do cartonado ou do livro-brinquedo. Aqui, a ilustradora, escritora e pesquisadora Aline Abreu transforma em narrativa uma brincadeira muito querida na primeira infância: “Achou?”. Com detalhes visuais que ganham a atenção dos pequeninos, a autora provoca o olhar para as cores e as formas, em ilustrações que são um presente para o leitor – tanto para o bebê quanto para o mediador da leitura. Indicado para crianças a partir de 0 ano, o livro traz um tucano sabichão, uma gata dorminhoca, um cachorro meio esquecido e até um pinguim que perde a hora.
8) Uma planta muito faminta, de Renato Moriconi
Quem conhece a famosa lagarta comilona do escritor Eric Carle logo vê as semelhanças com essa planta muito faminta. Homenagem do ilustrador Renato Moriconi ao clássico norte-americano, o livro faz uma brincadeira saborosa (com o perdão do trocadilho) que devora tudo o que encontra pela frente. Ou melhor: quase tudo. O que será? "A ideia surgiu quando eu estava em um restaurante vegetariano, esperando um amigo. Pensei: 'será que comem plantas carnívoras? E se eles comessem plantas carnívoras?", conta Moriconi.
9) Exercícios de ser criança, de Manoel de Barros, ilustrado por Fernanda Massotti e Kammal João
A combinação poesia e crianças é sempre um sucesso na certa. Quando o autor dos poemas é Manoel de Barros, então, o sucesso cresce ainda mais. Um clássico da poesia infantil brasileira, é uma celebração da infância, da brincadeira e da linguagem que nasce da comunhão com a natureza. Manoel nos lembra a força da linguagem, que consegue fazer as coisas acontecerem das maneiras mais impensadas. Usando apenas palavras e criatividade, é a poesia que pode “interromper o voo de um pássaro botando ponto no final da frase”.
O livro é composto por dois poemas, “O menino que carregava água na peneira” e “A menina avoada”, criações em que o poeta celebra a criança, a imaginação e o talento sempre à disposição da infância e da literatura: observar os detalhes da vida, das plantas e dos bichos
Pequena Zahar
10) O protesto, de Eduarda Lima
Em 2021, mais um ano – infelizmente – marcado pelos sinais da emergência climática em nosso planeta, o livro da escritora e ilustradora portuguesa Eduarda Lima ofereceu ao leitor uma possibilidade lúdica de conversar com as crianças sobre as questões socioambientais. O protesto apresenta uma realidade distópica em que gatos não miam mais, os cachorros não latem e as vacas não mugem. No final do livro, o leitor descobre qual a motivação desse protesto silencioso. O que será? A autora nos faz pensar sobre o impacto do ser humano à vida no planeta, em um apelo para nos unirmos contra a poluição e o desperdício.
11) Um gorila, de Anthony Browne
Neste divertido counting book – também chamado “livro de contar” – o renomado autor britânico Anthony Browne apresenta às crianças diferentes tipos de macacos. Que eles são muito inteligentes, já é sabido. Assim, contar de 1 a 10, para eles, deve ser moleza. Mas o que ninguém imaginava é que eles também poderiam nos ensinar uma poderosa lição sobre diferenças, respeito e tolerância. Pois é justamente essa a brincadeira deste livro, que chegou às livrarias brasileiras em maio de 2021. Personagem preferido do autor, os macacos aparecem aqui como porta-vozes de uma lição que os humanos ainda precisam aprender: a de que todos nós fazemos parte de uma mesma família, a dos habitantes do planeta Terra, que tanto precisa de nossa união.
12) Eu falo como um rio, de Jordan Scott, ilustrado por Sydney Smith
Se você teve a chance de ler este livro em 2021, já sabe por que ele aparece nesta lista. Uma das publicações que mais tocou nossos leitores neste ano, Eu falo como um rio conta a história de um garoto gago que, graças ao afeto e apoio do pai, aprende a acolher sua diferença e encontra sua voz.
Este é o primeiro livro do poeta canadense Jordan Scott escrito para as crianças, e foi inspirado em sua própria história como um menino que também tinha dificuldade de fala. As ilustrações, com a delicadeza característica do ilustrador Sydney Smith, são uma obra de arte à parte, e carregam de força poética a narrativa verbal criada por Scott. Sucesso de crítica, o livro recebeu os prêmios Family Book Award e Boston Globe-Horn Book Award, e, em 2020, foi incluído na lista de livros infantis mais vendidos do ano de diversos jornais e revistas, como New York Times, People Magazine e NPR.
13) Os livros de Maliq, de Paola Predicatori e Anna Forlati
Quando tudo mais parece desolador, onde podemos encontrar conforto, refúgio e acolhimento? Neste livro poético e de ilustrações belíssimas, Maliq, o último entre vinte irmãs e irmãos, encontra amparo nos livros do sótão da casa, depois que fica órfão. É a leitura e toda a sua potência que faz o garoto atravessar o luto, a solidão e encontrar um caminho em que possa voltar a sonhar. Para Maliq, os livros viram sua própria cama, quarto, casa - uma casa sólida que o fortalece e faz seguir.
Brinque-Book
14) A pequena Lana, de Silvana Rando
Inspirado em uma história real, essa obra nos apresenta Lana, uma garotinha pouco maior que uma lata de ervilha, mas que, às vezes, fica do tamanho de um gigante. Ou então pequenininha como um tatu-bolinha. Ela é boa em cuidar de seus pacientes, em fazer bolos de mentirinha e em salvar o planeta. Mas parece que sempre falta alguma coisa. Todas as noites, Lana pede um amigo, alguém que lhe faça companhia para ela não ser tão sozinha. Um dia, depois de um enorme barulho, a cerca vem abaixo, revelando que seu desejo estava a uma casa de distância. Com a irreverência e as cores de Silvana Rando, vamos acompanhando a amizade entre Lana e Nico. Até que... um muro surge no quintal.
Os demais livros que fazem parte dessa seleção, por outras editoras, são:
- O que o crocodilo diz?, de Eva Montanari (Jujuba Editora)
- Oikoá, de Felipe Valério e Luise Weiss (ÔZé Editora)
- Mesma nova história, de Everson Bertucci, Mafuane Oliveira e Juão Vaz (Peirópolis)
- O tio + oito, de Zerbini e Caio (Caixote)
- Julián é uma sereia, de Jessica Love (Boitatá)
- Por que choramos?, de Fran Pintadeira e Ana Sender (WMF Martins Fontes)
- O sopro do leão, de Marcos Bagno e Simone Matias (Edições Olho de Vidro)
- Com qual penteado eu vou?, de Kiusam de Oliveira (Editora Melhoramentos)
- A travessia de Anatole, de Gilles Eduar (Amelì Editora)
- Os olhos do jaguar, de Yaguarê Yamã e Rosinha (Jujuba Editora)
- A professora da floresta e a grande serpente, de Irene Vasco e Juan Palomino (Pulo do Gato)
- Migrantes, de Issa Watanabe (Solisluna Design Editora)
- A bela adormecida do samba, de Sonia Rosa (Mazza)
- Concerto de piscina, de Renato Moriconi (Gato Leitor)
- Homem bicho, bicho homem, de Itamar Assumpção e Paula Dalton (Caixote)
- O jabuti não tá nem aí, de Itamar Assumpção e Paula Dalton (Caixote)