
Heloisa Pires de Lima: “Uma história bem contada desafia a contar outra”
Com "Histórias da Preta", a autora Heloisa Pires de Lima ajudou a quebrar estereótipos da referência negra, em um livro voltado para as crianças, ainda na década de 1990
Escrever sobre uma personalidade tão importante - não apenas culturalmente, mas também em termos de história, luta contra o racismo e resistência - não é uma missão fácil. Quando a obra é feita para o público infantil, a missão se torna ainda mais delicada. Como escrever uma biografia literária que seja interessante e profunda para os pequenos, sem deixar pontos importantes de fora? E sem deixar a história sem graça também? A autora e editora de livros infantis Traci N. Todd conseguiu equilibrar tudo em Nina, uma história de Nina Simone, publicado pela Pequena Zahar.
De maneira direta, compreensível e, ao mesmo tempo, impactante, ela extrai da vida da artista estadunidense os pontos que a tornaram uma figura fundamental na música e também na luta pelos direitos civis da população negra. Nina sentiu o peso do racismo e da desigualdade social desde menina, ao tentar estudar e mostrar seu talento nos Estados Unidos, ainda na primeira metade do século 20.
No livro, Traci N. Todd conta a história de Nina Simone, como ela começou a cantar e seu envolvimento na luta pelos direitos civis
Para entender um pouco melhor qual é a relação de Traci com Nina Simone, os motivos que a levaram a escrever esse livro para os pequenos e quais foram os pontos mais desafiadores deste trabalho, conversamos com a autora, que nasceu em Chicago e vive hoje em Nova York, nos Estados Unidos. Confira:
Traci N. Todd: Meu pai me criou com a música de Nina Simone, entre outras. Então, a música dela esteve comigo durante a minha vida quase inteira. E eu simplesmente a amo. Por tudo o que ela fez, por tudo o que ela lutou. Ela não tinha remorso e era linda. E ela era imperfeita. Eu queria contar a história de uma mulher negra que era todas essas coisas, porque, simplesmente, não há o bastante.
Porque muito do que Nina se tornou está enraizado, obviamente, na infância dela. E eu queria que as crianças soubessem que há diferentes formas de resistir. Além disso, nos Estados Unidos, há certo estigma sobre ser uma “mulher negra com raiva”. Eu queria que as crianças, e especialmente as meninas negras, soubessem que a raiva é poderosa, justificável e humana. Mas, além de tudo, eu queria contar a história mais humana que eu poderia contar sobre alguém que, geralmente, não é reconhecido.
O maior desafio foi superar minhas próprias preocupações sobre como o livro seria recebido pelo público branco, já que eles formam grande parte das editoras de livros e da comunidade de pessoas que compram livros. Levou um certo tempo até que eu percebesse que o mais importante era que o livro fosse verdadeiro.
Acho que a principal mensagem é qualquer mensagem que a criança leitora tirar dele. Mas eu realmente quis terminar o livro em um tom de esperança.
Que pergunta difícil! Depende do dia. Hoje, vou dizer que é Here comes the sun e I wish I knew how it would feel to be free. Eu poderia escutar essas duas de novo e de novo e de novo…
Com "Histórias da Preta", a autora Heloisa Pires de Lima ajudou a quebrar estereótipos da referência negra, em um livro voltado para as crianças, ainda na década de 1990
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