O escritor Daniel Munduruku foi o primeiro – e, por muitos anos, o único – autor de literatura infantil de origem indígena publicado no Brasil. Seu primeiro livro, Histórias de índio, foi lançado em 1996, pela Companhia das Letrinhas. Nesse intervalo de 26 anos, o autor escreveu mais de 50 obras, foi reconhecido e premiado dentro e fora do Brasil, inclusive com dois Prêmios Jabuti (2004 e 2017). Pelo Grupo Companhia, ainda são dele Vó coruja, Kabá Darebu, O homem que roubava horas e Catando piolhos, contando histórias.
Munduruku também é professor universitário e fundador e editor da Uk'A Editorial, casa que publica autores de origem indígena. Felizmente, agora o autor tem a companhia de uma diversidade maior de vozes que produzem e publicam narrativas indígenas ao público infantil.
O escritor Daniel Munduruku tem mais de 50 livros publicados
A escritora, ativista e advogada Aline Ngrenhtabare L. Kayapó, do povo kayapó, é uma dessas vozes. Uma das autoras de Nós: Uma antologia de literatura indígena (Companhia das Letrinhas, 2018), ela já afirmou que essa produção “não é igual aos gêneros literários canônicos produzidos e reproduzidos na academia. Quem escreve a literatura indígena já se encontrou com sua ancestralidade originária e consegue ‘fazer o papel falar’ […]. Acredito que a literatura que produzimos colabora de forma significativa para dimensionarmos a vida no planeta, para depurarmos os rastros de escombros deixados pela racionalidade humana”.
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Antologia de 2019 reúne contos de autores indígenas de diversas etnias
Para Munduruku, a literatura infantil indígena é uma maneira de valorizar a diversidade dos povos originários na prática e não apenas no discurso. Apesar de a Lei nº 11.645, de 2008, determinar que, “nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena”, o autor acredita que a literatura indígena seja pouco usada nas escolas,
Histórias de índio foi o primeiro livro publicado pelo autor, em 1996, pela Companhia das Letrinhas
“A forma como ainda se educa no país apaga e desqualifica essa enorme diversidade de narrativas, culturas e formas de viver dos povos originários, chamando-as todas de ‘índios’”, alerta o escritor.
Assim, para que o grito primal da literatura indígena seja lido e repercutido, trazemos aqui uma lista de autoras e autores para apresentar às crianças “o bojo da experiência coletiva, os valores e laços de pertença, a circularidade natural antiga, apartada das gentes das cidades”.
1) Kássia Borges
Ela é artista plástica, professora da Universidade Federal de Uberlândia e tem telas, cerâmicas e esculturas expostas em diversos museus e lugares do mundo. De origem karajá e nascida em Goiás, Kássia fez sua estreia na literatura infantil como ilustradora do livro A festa da onça, lançamento de agosto da Brinque-Book.
2) Eliane Potiguara
Carioca de origem potiguara pelos avós, que eram nordestinos, Eliane é poeta e uma das primeiras autoras indígenas do Brasil. Participou da elaboração da Declaração Universal dos Direitos Indígenas, na Onu, em Genebra. Seu livro A Terra é a mãe do índio foi premiado pelo Pen Club, da Inglaterra. Lançou os infantis O pássaro encantado (editora Jujuba) e A cura da Terra (Editora do Brasil).
3) Aline Kayapó
Filha de cacique kayapó, de origem aymara (povo andino) pelo lado materno, mãe do pequeno Yupanki, Aline é uma das autoras do livro Nós, com o conto "Amor originário", além de ativista, pesquisadora e fundadora do Wairaísmo, corrente ancestral-filosófica que se vincula à reflexão da resistência das indígenas mulheres no Brasil.
4) Julie Dorrico
Ela é uma das escritoras e pesquisadoras mais reconhecidas da literatura indígena, mas só descobriu sua origem macuxi aos 26 anos. Julie escreveu Eu sou macuxi e outras histórias (editora Caos e Letras), integra a antologia de contos De repente adolescente, da Editora Seguinte, e é colunista do Uol.
5) Cristino Wapichana
Nascido em Rondônia, Cristino é descendente do povo wapichana, escritor premiado, músico e compositor. O conto "Wató, a pedra do fogo" integra a antologia Nós. Seu livro A boca da noite foi premiado como como o melhor infantil pela FNLIJ em 2017 e uma de suas ilustrações, de Graça Lima, foi capa do catálogo da Feira de Bolonha.
6) Edson Krenak
Autor do conto "Pokrane e Kren, porque não havia gêmeos entre os Krenak", da antologia Nós, Edson é filho do povo krenak, da região do rio Doce, e PhD pela Universidade de Viena, na Áustria. Ativista e um dos nomes mais importantes da literatura indígena brasileira.
7) Edson Kayapó
Do povo mebengokré, Edson é historiador, ativista pelos direitos indígenas e ambientalista. Já publicou os livros infantojuvenis Projetos e presepadas de um curumin na Amazônia (Editora Positivo), Um estranho espadarte na aldeia (editora Primata) e o conto "Amor originário", com sua esposa Aline Kayapó, no livro Nós.
8) Lia Minápoty
Filha e uma das lideranças jovens da etnia maraguá, da Amazônia, Lia é artista plástica especializada em grafismos indígenas. Pela Companhia das Letrinhas, é uma das autoras do livro Nós e também já publicou Com a noite veio o sono (Leya) e Lua menina e menino onça, traduzidos para o italiano.