Mergulhar no tempo das cerejas, por Meritxell Hernando Marsal
Meritxell Hernando Marsal compartilha sobre os desafios do processo de tradução de "O tempo das cerejas"
Por Equipe Companhia das Letras

Provas de Lima Barreto: triste visionário
Receber um lançamento fresquinho da gráfica é uma das maiores alegrias para quem trabalha em editora. Mas são muitas as etapas até chegar o grande dia, durante as quais o livro vai ganhando “mães” e “pais” adotivos. Pensamos que Lima Barreto: triste visionário, que dá o ar da graça este fim de semana, seria o caso perfeito para ilustrar os bastidores da gestação de um livro — afinal, são dez anos de pesquisa, 656 páginas e 98 imagens!
Começaremos aqui com a maior parte do caminho andado. Pois, claro, a mãe ou o pai do livro, de verdade, é sempre o autor. É ela ou ele quem enfrenta a solidão da pesquisa ou do processo criativo, é a ele ou ela que tudo se deve. Lilia já narrou parte desses capítulos aqui no blog, esses seus dez anos de convívio diário com Lima. Nós, a equipe da editora, estamos aqui só para fazer com que o resultado final seja o melhor possível. Ainda assim, há muita história por trás da página impressa!
Tudo começa com o editor, primeiro leitor e interlocutor do autor, que com ele permanece em diálogo constante, muitas vezes desde o momento em que o livro não passa de uma ideia. Ele está lá para dúvidas, inseguranças, trocas, debates, para apontar caminhos. É, no entanto, um profissional de bastidor por excelência. Sua tarefa é ajudar o autor a encontrar sua melhor expressão. Ao ler, fica atento a questões de estrutura, forma, extensão. Lima teve três desses leitores: o primeiro foi Luiz Schwarcz, que acompanhou o processo desde o começo; aí vieram Otávio Marques da Costa e Daniela Duarte. Estiveram por seis meses em contato quase diário com Lilia Schwarcz, burilando o texto até que ele atingisse sua forma “final” — o leitor em breve entenderá as aspas. Claro que as funções do editor não param por aí. Ele deve estar a par — e ajudar a dar o tom — de tudo que vem adiante, da escolha da capa à definição de estratégias comerciais.
O próximo passo foi a checagem de informações. Esse é um cuidado que temos com projetos de não ficção, em especial nas áreas da reportagem e história. Numa apuração de envergadura, nada mais normal que passem errinhos ou imprecisões, de toda ordem. E o checador é o anjo da guarda que, com uma lupa numa mão e um pente fino na outra, confere todos os dados históricos mencionados no livro, episódios, nomes de personagens, datas de eventos. Érico Melo foi o nosso fiel fact checker, mais uma vez.
Em seguida, começa a preparação de texto, uma leitura mais minuciosa que leva em conta as correções ortográficas e gramaticais, bem como a clareza do texto e a adequação da linguagem. O preparador se mune de muitos aparatos para realizar o trabalho. Faz vasta pesquisa em gramáticas, enciclopédias e em dicionários diversos — semânticos, ortográficos, etimológicos, analógicos, de regência —, corrigindo os erros da língua e também propondo soluções para trechos que possam parecer pouco claros. Márcia Copola, talvez a preparadora mais experiente da casa, que trabalhou nos livros de Jô Soares, Chico Buarque, Fernando Morais, Daniel Galera, entre incontáveis outros, ficou mais uma vez com a tarefa.
Depois da preparação, chega-se à etapa de fechamento de texto, que é o terceiro olhar dado ao livro. Temos uma equipe de editores de texto, coordenada por Lucila Lombardi, que cuida esses fechamentos. No Lima, como já havia feito em Brasil: uma biografia, foi Adriane Piscitelli quem coordenou essa etapa ao lado da Márcia. Como nem tudo sai exatamente como planejado — há muitas correções de última hora, alterações, emendas e percalços de todo tipo — trata-se de fase muito importante, na qual o cuidado e a precisão dos profissionais são fundamentais. Neste livro, para alguns capítulos e para as notas de fim, também contamos com a ajuda de Ciça Caropreso e de Cacilda Guerra na preparação.
Chega enfim a hora de o departamento de produção entrar no processo. Elisa Braga, diretora de produção, decide com o editor a respeito do acabamento do livro — se capa dura, flexível ou brochura; se encadernado, costurado ou colado; qual o tipo de papel e a espessura; quais as dimensões. Após isso, Miguel Gama começa a preparar o orçamento e a cuidar da compra de papel e do serviço gráfico.
A produção, supervisionada por Fabiana Roncoroni, organiza todo o cronograma, acerta as datas de entrega na gráfica, encomenda o projeto gráfico, seleciona os diagramadores e os revisores, sempre atenta aos prazos que todos devem cumprir. Jane Pessoa e Huendel Viana foi a dupla de revisores que não nos deixaram na mão — já com uma prova gráfica em mãos, fizeram as últimas leituras, com atenção de detetive e olho de lince, tudo isso num prazo bem apertado.
Ainda dentro da produção estão os departamentos de iconografia e de arte. Erica Fujito é a coordenadora da iconografia e fica em contato frequente com os bancos de imagem, os institutos, as bibliotecas, os museus, os jornais e as revistas para realizar e encomendar pesquisas, além de pedir licença do uso das imagens. Em seguida, Bruno Romão foi o responsável pelo tratamento das imagens. Teco de Souza, produtor gráfico, acompanhou in loco a impressão na gráfica para conferir todas as imagens impressas. Enquanto isso, Marina Pastore preparou o e-book do livro para as lojas online.
Alceu Nunes é o diretor de arte; ele coordena toda a equipe de designers da editora e também dos capistas colaboradores. A equipe da arte se encarregou de discutir o briefing dos editores com o designer Victor Burton — o que é feito ainda alguns meses antes de o livro entrar em produção. Victor deu tratamento originalíssimo à imagem de capa, pintura do artista goiano Dalton Paula, um retrato de Lima especialmente encomendado para esta edição, como Lilia já contou aqui. A arte cuidou ainda do fechamento das provas de capa e solicitou as provas de cor para que nenhum pigmento fugisse do esperado.
Voltando ao texto, com a última prova diagramada e revisada concluída, já podemos pedir ao nosso colaborador Luciano Marchiori, indexador da maioria dos livros da Companhia, para revisar o índice remissivo e acertar os números das páginas de acordo com cada verbete.
Depois de todas as etapas editoriais e de produção, já está tudo pronto para seguirmos com os trabalhos comercial, de marketing e de imprensa, cujas estratégias já estão esboçadas pelo editor e essas equipes desde meses antes da chegada do livro. Contamos, então, com Luciana Borges para a venda, Lilia Zambon e Bárbara Bressanin para a divulgação, e Clara Dias para a assessoria de imprensa. Fabio Uehara e Taize Odelli promovem o livro nas mídias sociais, na Rádio Companhia com os podcasts e no canal do YouTube.
Mais tarde, temos o trabalho de Rafaela Deiab e equipe, responsável pelo departamento de educação, junto às escolas e às universidades para fomentar a obra nos âmbitos escolar e acadêmico.
Chega, enfim, o momento em que todos os funcionários do depósito, coordenados por Edson Leite, se preparam para receber o livro impresso, com cheirinho de novo. No espaço que ocupa seis mil metros quadrados, ele será separado para ser distribuído por todo o Brasil e, assim, alcançar os leitores do Oiapoque ao Chuí.
Depois de ser mimado por todas essas mães e pais, só conseguimos desejar vida longa ao nosso filho!

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