Mergulhar no tempo das cerejas, por Meritxell Hernando Marsal
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Num ensaio escrito no fim dos anos 2000, o escritor argentino Fabián Casas fazia um clamor: “Quero que Cortázar volte. Que voltemos a ter escritores como ele – certeiros, comprometidos, bonitos, sempre jovens, cultos, generosos, falastrões”.
Em 2019, no aniversário de 105 anos de seu nascimento, e 35 anos após sua morte, o autor de O jogo da amarelinha estará de volta. É com enorme alegria que a Companhia das Letras anuncia a publicação da obra de Julio Cortázar, um dos mais inventivos escritores do século vinte, um autor lido sempre com fervor e entusiasmo.
Desde as primeiras linhas de “A casa tomada”, conto que abre seu livro de estreia, Bestiário, de 1951, Cortázar deixou sua marca inconfundível no cânone latino-americano e mundial. Para o professor e crítico Davi Arrigucci Jr., autor de O escorpião encalacrado – uma das análises mais completas e notáveis já feitas da obra do autor argentino –, “a escrita de Cortázar se distingue, entre os grandes narradores hispânicos do século vinte, pelos riscos com que assumiu a liberdade de inventar, por vezes beirando o limite da destruição da narrativa ou o impasse do silêncio [...] Uma literatura de invenção marcada na essência pela busca e pela experimentação contínua de novos rumos. Uma obra em rebelião permanente, em constante transformação”.
A coleção Julio Cortázar na Companhia das Letras começará com a publicação, inédita no Brasil, de uma reunião de todos os contos do escritor argentino, em uma caixa, em dois tomos.

Depois, serão lançadas novas edições de O jogo da amarelinha (1963), Bestiário (1951), Final de jogo (1956), As armas secretas (1959), Todos os fogos o fogo (1966), Octaedro (1974), Queremos tanto a Glenda (1980), História de Cronópios e Famas (1962), Um tal Lucas (1979), Os autonautas da cosmopista (1983), Os prêmios (1960), 62 modelo para armar (1968), Divertimento (1949), O exame (1950), A volta ao dia em oitenta mundos (1967), Último round (1969), O discurso do urso (1952) e a versão ilustrada por José Muñoz do conto O perseguidor.
Os livros terão capas feitas especialmente para as edições brasileiras pelo artista norte-americano Richard McGuire – capista da revista The New Yorker e autor de um dos mais cultuados romances gráficos de todos os tempos, Aqui, que assim como O jogo da amarelinha propõe uma abordagem original e não-linear do tempo narrativo.
Para o editor Emilio Fraia, Cortázar passa por um momento de redescoberta. “Ele começa a ser lido de um jeito novo, menos automático e reverente”, diz. “Às vezes é preciso que surja uma nova geração de leitores para enxergar um escritor com certa distância. É o que vamos ter a oportunidade de fazer agora com Cortázar”.
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