Mergulhar no tempo das cerejas, por Meritxell Hernando Marsal
Meritxell Hernando Marsal compartilha sobre os desafios do processo de tradução de "O tempo das cerejas"

Grande sertão: veredas já está à venda nas livrarias e, neste post, comentaremos um último aspecto da nova edição do romance de João Guimarães Rosa: a fortuna crítica.
Este conteúdo foi enviado antes, com exclusividade, para os assinantes da newsletter sobre Grande sertão: veredas. Inscreva-se e receba os conteúdos das próximas semanas.
O propósito de anexar alguns textos críticos ao final do livro foi o de fornecer um mostruário representativo da recepção de Grande sertão: veredas, título que logo se impôs como uma das obras-primas de nossa literatura. Esse reconhecimento imediato do valor da obra se manifestou, como era de se esperar, em uma enorme quantidade de abordagens, com perspectivas e resultados muito heterogêneos.
A fortuna crítica reunida na edição acolhe um breve recorte da correspondência entre Clarice Lispector e Fernando Sabino; “Grande sertão: a fala”, de Roberto Schwarz; “O certo no incerto: o pactário”, de Walnice Nogueira Galvão; “A matéria vertente”, de Benedito Nunes; “O mundo misturado: Romance e experiência em Guimarães Rosa”, de Davi Arrigucci Jr.; e “Cabo das tormentas”, de Silviano Santiago. Os textos de Walnice Nogueira Galvão e Silviano Santiago, aliás, são partes trabalhos mais longos, cuja publicação integral não seria possível neste livro.
Algo da diversidade das críticas provocadas por Grande sertão: veredas se verifica nestes ensaios, que foram dispostos cronologicamente, procurando dar a ver também, ao menos em parte, como se constituiu essa trama de leituras. Por fim, a edição inclui uma lista com indicações de outros textos relevantes publicados a respeito do romance.
Silviano Santiago, que é autor de Genealogia da ferocidade: Ensaio sobre Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa (Recife: Cepe, 2017), de onde se extraiu o ensaio incluído em nossa edição, escreveu na Suplemento Pernambuco deste mês um guia de leitura do romance. Leia abaixo um trecho:
"O interlúdio amoroso, que se reforça filosoficamente com a imagem do Diabo, se complementa com a épica da guerra entre os chefes-jagunços inimigos que, abandonados à própria sorte e risco, roubam do animal onça o coração para se encher de coragens terríveis. Não há direção precisa na organização social do mundo sertanejo – 'Jagunço não se escabreia com perda nem derrota – quase que tudo para ele é o igual.' A indecisão é o modo como a anarquia domina e toma conta dos grupos de jagunços em formação guerreira. É ela que desenha também o mapa ignorado daquela região feroz do Alto São Francisco. Quanto mais a narrativa de Grande sertão: veredas se volta para o passado, mais e mais ela se afirma no nosso presente sob a forma de inevitável e atual apocalipse."
Publicado originalmente em 1956, Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, revolucionou o cânone brasileiro e segue despertando o interesse de renovadas gerações de leitores. Ao atribuir ao sertão mineiro sua dimensão universal, a obra é um mergulho profundo na alma humana, capaz de retratar o amor, o sofrimento, a força, a violência e a alegria.
Esta nova edição conta com novo estabelecimento de texto, cronologia ilustrada, indicações de leituras e célebres textos publicados sobre o romance, incluindo um breve recorte da correspondência entre Clarice Lispector e Fernando Sabino e escritos de Roberto Schwarz, Walnice Nogueira Galvão, Benedito Nunes, Davi Arrigucci Jr. e Silviano Santiago. Dispostos cronologicamente, os ensaios procuram dar a ver, ao menos em parte, como se constituiu essa trama de leituras.
A capa do volume é reprodução da adaptação em bordado do avesso do Manto da apresentação, do artista Arthur Bispo do Rosário, com nomes dos personagens de Grande sertão: veredas. O projeto gráfico conta ainda com desenhos originais de Poty Lazzarotto, que ilustrou as primeiras edições do livro.
Meritxell Hernando Marsal compartilha sobre os desafios do processo de tradução de "O tempo das cerejas"
Rádio Companhia apresenta "As narradoras": minissérie em áudio sobre vozes literárias femininas do século XX
Como se preparar para a Conferência do Clima, que este ano acontece em Belém