Píppi, Alice e Emília: as primeiras personagens feministas da literatura infantil?
Kátia Canton e Janaína Tokitaka discutem sobre o papel das protagonistas nos contextos em que foram criadas
“De uma caixa de costura
Pano, linha e agulha
Nasceu uma menina valente
Emília, a Boneca-Gente”
(Baby Consuelo - Emília (A Boneca Gente); Álbum Pirlimpimpim)
Uma das maiores personagens da literatura infantil brasileira, Emília nasceu do pano e da agulha inaugurando um novo jeito de ser menina, subvertendo a representação feminina no contexto de uma literatura infantil em que os heróis espertos, curiosos e ousados são todos meninos como Tom Sawyer e Peter Pan. Faladeira e atrevida, a boneca-gente se consagrou como um referencial de liberdade, esperteza e sapequice, em muitas ocasiões recebendo mais visibilidade do que a própria menina Narizinho nas sagas do Sítio do Picapau Amarelo.
O incrível é que Emília tem diversas “primas” no universo infantil, na literatura, nos quadrinhos e no teatro: a “achadeira” Píppi Meialonga, a perguntadeira Alice, a sabida Matilda, a imaginativa Mabel, a revolucionária Terremota. Confira!

Alice
Numa época em que apenas homens barbados tinham permissão para viver aventuras, essa heroína curiosa seguiu um coelho branco e descobriu um novo mundo. Destemida, quando a Rainha de Copas ordena que “Cortem-lhe a cabeça!”, ela não recua e não precisa de ninguém para protegê-la, já que sua proteção é sua própria habilidade de argumentação. É uma personagem que quer escolher o que beber e o que comer – mesmo que isso a encolha ou a aumente de tamanho – e tomar decisões: “Deveria saber em que direção está indo mesmo que não saiba o próprio nome!”, ela diz, em Alice Através do Espelho.
Matilda
Criada por Road Dahl, Matilda é uma menina autônoma e sabida. Com apenas cinco anos, leu todos os livros infantis da biblioteca pública da sua cidade e mais um montão de livros adultos também. Mas seus pais, o Sr. e a Sra. Losna, não gostam nada, nada dessa esperteza da menina e, em vez de aplaudi-la, dizem que ela é uma tagarela barulhenta. Para se vingar, Matilda faz travessuras e peripécias sem nunca ser descoberta. Ela diz: “Todos os livros infantis deveriam ter coisas engraçadas. Criança não é séria como adulto, criança adora rir”.
Mafalda
Esta baixinha de boca grande não veio ao mundo de passeio. Mafalda é realmente uma heroína enraivecida que questiona as contradições da humanidade. A protagonista das famosas tirinhas do autor argentino Quino é uma menina inteligente e preocupada com o mundo, sendo mais politicamente engajada que os adultos que conhece. O que mais odeia é a injustiça, as armas nucleares, o racismo e as absurdas convenções dos adultos – questões que a incomodam desde 1964, quando suas tiras começaram a ser publicadas.
Píppi Meialonga
Uma das maiores referências de personagens femininas com sonhos de liberdade e aventura: Pippilotta Comilança Veneziana Bala-de-goma Filhefraim Meialonga ou, simplesmente, Pippi Meialonga. Píppi é uma garotinha de nove anos que vive sem os pais e fala de si mesma sempre em tom altivo e seguro. “Sou uma achadeira. O mundo é cheio de coisas que estão esperando para serem encontrados”, ela diz. Com seus cabelos ruivos, rosto sardento e uma força descomunal, é uma menina "impossível". Nasceu em alto-mar, mas hoje mora na Vila Vilekula, Destemida e sapeca, Píppi tem sempre uma resposta na ponta da língua, ou energia para dar uma surra em cinco meninos brigões, enganar os policiais que querem levá-la para um lar de crianças, botar dois ladrões para correr e enfrentar um touro a unha.
Mabel Jones
Quando queremos dizer a uma menina que vencer na contramão é possível, lembramos justamente desta aventureira envolvente, cheia de imaginação, engraçada e inspiradora: Mabel Jones. É sequestrada erroneamente pelo capitão dos piratas, crente de que meninas não levam jeito para a pirataria. Será mesmo? Em suas aventuras, a garota enfrenta um navio com uma tripulação bem suspeita, desafios tenebrosos e até a Rainha Bruxa, um ser perverso que domina a Cidade Proibida para salvar Maggie, sua irmãzinha. E um detalhe: ela nem precisa se preocupar com um figurino clássico de heroína. Faz tudo isso de pijama!
Terremota
Maria tem sete anos e já sabe de tudo. É tão dona de si que resolveu proclamar sua própria República e virar a Maria Terremota Primeira. Para governar, conta com a ajuda de seu Conselheiro Oficial, o gato Platão, e do Ministro da Sopa (logo promovido a Ministro da Gangorra), o Tio Bigode. Tudo isso após ter frustrado seus planos de um dia na praia devido a uma inesperada tempestade... Terremota foi criada nas histórias do dramaturgo Marcelo Romagnoli e ganhou perninhas no teatro. Só depois foi parar nas páginas do livro que integra a coleção Fora de Cena.

Kátia Canton e Janaína Tokitaka discutem sobre o papel das protagonistas nos contextos em que foram criadas
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