Nesta antologia composta por trinta contos, todos caracterizados pelo apuro formal, um dos temas mais fortes do autor é o da infância que perde a inocência, passagem muitas vezes marcada pelo encontro com um sexo sombrio ou perverso.
Nesta antologia composta por trinta contos, todos caracterizados pelo apuro formal, um dos temas mais fortes do autor é o da infância que perde a inocência, passagem muitas vezes marcada pelo encontro com um sexo sombrio ou perverso.
Embora não seja conhecido de um círculo amplo de leitores, o sergipano Antonio Carlos Viana já publicou três coletâneas de contos: Brincar de manja (1974), Em pleno castigo (1981) e O meio do mundo (1993). Foi a partir deles que o poeta Paulo Henriques Britto organizou essa antologia composta por trinta contos; é dele também a breve introdução ao volume.Além da morte, nessa antologia um dos temas mais fortes de Antonio Carlos Viana é o da infância que perde a inocência, passagem muitas vezes marcada pelo encontro com um sexo sombrio ou perverso, dissociado da alegria. Com uma ou outra exceção, aliás, a alegria é um bem a que os personagens de O meio do mundo e outros contos parecem não ter direito. E também não é incomum que extraiam prazer da própria crueldade.Falando de crianças ou de adultos, do sexo ou da morte, Antonio Carlos Viana revela-se mestre num gênero que se associa, de um lado, à existência de um núcleo temático bem definido e, de outro, a um desdobramento controlado desse núcleo. Consciente da necessidade de contenção, e vocacionado para ela, ele executa um apurado trabalho formal e faz surgir a impressão de pleno acabamento que caracteriza a obra dos grandes autores.Como se fossem pequenas peças de teatro, suas narrativas nos fazem ver os ambientes, presentificam as coisas, as pessoas e os sentimentos, não só os que se explicitam, mas também aqueles que apenas se insinuam num gesto, num olhar ou num esboço de idéia que o próprio personagem não chegou a desenvolver.Com esse poder descritivo, Viana corporifica os habitantes de um mundo geralmente fechado no anonimato: os meninos, os homens e as mulheres que ele põe em cena moram quase todos no "interior", um lugar onde o peso dos costumes tradicionais torna mais obscura a idéia de individualidade. Para tirá-los de lá, sua técnica narrativa - e seu partido afetivo - é isolar a privacidade de cada um deles e virar o "interior" do avesso, transformando-os em personagens portadores de um rosto único, carregado de histórias que só a literatura parece capaz de contar.