Clássicas, mas modernas: seis clássicos de escritoras do século XX

24/04/2024

Alba de Céspedes foi uma das grandes autoras de língua italiana do século XX. Gwendolyn Brooks foi a primeira escritora negra a ganhar o prêmio Pulitzer. Silvina Ocampo foi uma das escritoras mais singulares, complexas, envolventes do realismo fantástico latino-americano. Nesta lista, conheça seis obras e autoras que permaneceram desconhecidas durante boa parte do século XX e foram redescobertas nos últimos anos.

1. Caderno proibido, de Alba de Céspedes (1962)

Tradução de Joana Angélica d’Ávila Melo

Valeria Cossati queria apenas buscar cigarros para o marido na tabacaria, mas acaba comprando ilegalmente um caderno preto e faz dele seu diário. Estamos na Roma dos anos 1950, e Valeria leva a vida entediante de uma mulher de classe média, dividindo-se entre os papéis de mãe, esposa e funcionária de escritório. Há anos ela não ouve o próprio nome — o marido só a chama de “mamãe” —, e sua relação com os filhos é marcada por conflitos geracionais. Porém, conforme alimenta aquelas páginas proibidas, Valeria começa a notar uma profunda transformação em si mesma — cujas consequências ela ainda não sabe prever.

Alba de Céspedes foi uma das grandes autoras de língua italiana do século XX, com uma obra que se destaca pela sua profundidade das personagens femininas. Em Caderno proibido, a autora demonstra todo seu talento ao retratar a intimidade de uma mulher comum e as mudanças da sociedade italiana no pós-guerra.

2. Maud Martha, de Gwendolyn Brooks (1953)

Tradução de floresta

Prefácio de Margo Jefferson

Maud Martha Brown é uma menina negra que cresceu no South Side de Chicago, na década de 1940. Ela sonha com Nova York, um romance e seu futuro. Ela adora dentes-de-leão, aprende a tomar café, apaixona-se, decora sua cozinha, visita o Jungly Hovel, estripa uma galinha, compra chapéus, dá à luz. Mas seu marido de pele mais clara também tem sonhos: quer entrar para o Foxy Cats Club, deseja outras mulheres, fantasia com a guerra. No passar do tempo, “fragmentos de um ódio confuso” estão sempre presentes: a forma como uma vendedora a tratou; uma ida ao cinema; a crueldade que sofre em uma loja de departamentos. A partir de breves vinhetas, Gwendolyn Brooks constrói um retrato extraordinário de uma vida comum, marcada por sabedoria, humor, raiva, dignidade e alegria.

3. A corneta, de Leonora Carrington (1976)

Tradução de Fabiane Secches

Aos noventa e dois anos e com a audição prejudicada, Marian Leatherby ganha uma corneta auditiva de sua melhor amiga. Com auxílio do aparelho, Marian descobre que seu filho, sua nora e seu neto têm planos soturnos: não suportando mais conviver sob o mesmo teto que ela, a família se articula para mandá-la a um asilo. Mas o lugar em questão não é uma instituição comum — os edifícios residenciais têm formato de bolo de aniversário, de cogumelos e de iglus. Lá, Marian embarca em uma jornada imprevisível, em que descobre fenômenos como a Freira Piscando, a Rainha Abelha, a entrada para um submundo e um assassinato misterioso.

Considerada a última das mulheres surrealistas, a pintora, dramaturga e romancista Leonora Carrington foi uma artista audaciosa e revolucionária. A corneta é a grande chave de sua obra anárquica e repleta de alusões.

4. Trilogia de Copenhagen, de Tove Ditlevsen (1967-1971)

Tradução de Heloisa Jahn e Kristin Lie Garrubo

Trilogia de Copenhagen é a obra-prima de Tove Ditlevsen, uma das principais vozes da literatura dinamarquesa do século XX, e reúne três volumes autobiográficos. Em Infância, acompanhamos a história dos primeiros anos da escritora, que cresceu em um bairro operário e sonha em se tornar poeta. Juventude descreve suas primeiras experiências sexuais e profissionais e a conquista de sua independência. No terceiro volume, Dependência, Tove já é conhecida nos círculos literários — mas sua vida pessoal entra em colapso com casamentos conturbados e o vício em opioides.

Ao longo de todo o livro, está presente o embate entre a vocação literária de Tove e as expectativas reservadas a uma mulher de classe trabalhadora. Sucesso internacional de público e crítica, a Trilogia pode ser considerada uma antecessora intelectual e temática da obra de Annie Ernaux e Elena Ferrante, destacando-se por sua honestidade brutal e pela representação das amizades femininas.

5. A fúria, de Silvina Ocampo (1959)

Tradução de Livia Deorsola

A fúria é considerado “o mais ocampiano” dos livros de Silvina, obra em que a autora encontra sua voz única e inaugura seu universo alucinado. “Nos seus contos há algo que não consigo compreender: um estranho amor por certa crueldade inocente e oblíqua”, escreveu o amigo Jorge Luis Borges. Saídas do que Roberto Bolaño chamou de “uma limpa cozinha literária”, suas histórias misturam elegância e excesso, distanciamento e intensidade, calma e horror. Há a influência macabra que a antiga dona de uma casa exerce na nova inquilina (A casa de açúcar, o conto favorito de Julio Cortázar); adivinhos e premonições (A sibila e Magush); amores loucos (A paciente e o médico); a festa de aniversário de uma jovem paralítica (As fotografias); e uma profusão de crianças malignas, como a que incendeia cruelmente uma amiga no conto que dá título ao livro. Revalorizada com entusiasmo nos últimos anos, a literatura de Silvina Ocampo é singular, complexa, envolvente e nos convida, como poucas, à fantasia e à imaginação.

6. A loteria e outros contos, de Shirley Jackson (1948)

Tradução de Débora Landsberg

Publicado pela primeira vez em 1948 na revista The New Yorker, o conto A loteria é considerado um dos mais importantes da literatura americana — seu impacto foi tão profundo que, logo após sua publicação, a revista recebeu diversas cartas reclamando da “imoralidade” da narrativa. Essa e outras 24 histórias curtas formam uma coletânea brutal que analisa com maestria os meandros da sociedade norte-americana, a opressão velada, o lugar a que as mulheres são relegadas, o peso do matrimônio e dezenas de outros temas que ainda fazem parte da sociedade atual.

Seja esmiuçando a vida nos subúrbios dos Estados Unidos, como em Estátua de sal, ou retratando a influência da bebida e da juventude na vida de um homem, como em O embriagado, Jackson constrói histórias com personagens vivazes e impressionantes que acompanharão o leitor mesmo depois de fechar o livro.


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