8 curiosidades sobre o álbum "A arca de Noé", de Vinicius

21/10/2020

Você com certeza conhece a música “Era uma casa/Muito engraçada/Não tinha teto/Não tinha nada”, assim como “Lá vem o pato/Pata aqui, pata acolá”. São canções enraizadas no imaginário coletivo brasileiro, a ponto de muita gente nem saber mais que elas têm autoria – e autoria ilustre! De Vinicius de Moraes - o aniversariante da semana -, que reuniu os poemas do livro A arca de Noé em dois discos de vinil, também criados para o público infantil, em 1980.

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Chico Buarque e Milton Nascimento foram alguns dos intérpretes reunidos em A arca de Noé, o disco, que virou clássico e formou uma geração de crianças com música de qualidade especialmente para elas. E canções como “A casa” fizeram tamanho sucesso que passaram a ser transmitidas de geração em geração.

Capa de Elifas Andreato para o disco 2 de "A arca de Noé"

Daniel Gil, doutor em literatura brasileira pela UFRJ e especialista na obra de Vinicius, realizou uma pesquisa com cem pessoas nascidas a partir de 1980 e, quando apresentadas ao poema/letra da música, 100% delas reconheciam a canção. E 41% disseram acreditar que se tratava de uma música popular sem autoria, como outras cantigas infantis como “O cravo brigou com a rosa” e “Se essa rua fosse minha”.

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O pesquisador explica que a música assumiu características de folclore, ainda que as histórias e canções folclóricas estejam mais ligadas ao campo e à cultura indígena (no Brasil). “A casa”, no entanto, remete a “uma cultura urbana, burguesa” e foi publicada num livro de poemas, “que é o auge formalidade”.

Porém, “A casa” migrou da cultura erudita para a cultura de massa, popularesca, por meio do álbum e da TV. “Num terceiro momento, passa para uma cultura espontânea, que é transmitida oralmente, de pai pra filho e não depende de nenhum meio para isso”. É nesse momento que ela “perde” a autoria. Para Daniel Gil, essa é “a consagração máxima do poeta”.

Mas essa não é a única curiosidade ligada ao disco. Por exemplo, foi lançado primeiro na Itália, em 1970, e saiu por aqui só dez anos depois. Vem saber mais:

1) Vinicius passava temporadas morando na Itália e, segundo Daniel Gil, “tinha a patota dele lá, o Bardotti, o Endrigo, o Ungaretti; ele estava bem enturmado na Itália”. Pouco antes de o livro A arca de Noé ser publicado aqui no Brasil em 1970, “esse grupo se interessou quase que imediatamente por musicar os poemas para lançar em álbum e foi um sucesso danado”. Assim, o álbum L’Arca foi italiano antes de ser brasileiro.

2) Ainda de acordo com Gil, alguns anos depois do lançamento italiano, a obra “começou a interessar as gravadoras aqui no Brasil. Afinal, um poeta brasileiro lança um livro de poesia em português que é musicado na Itália e faz sucesso lá, nada mais natural que viesse pra cá. Assim, ele assinou contrato com a Ariola e começou a trabalhar no projeto em português, com grandes intérpretes, como Milton Nascimento, Elis Regina, MPB4, Chico Buarque, Ney Matogrosso, o que tinha de melhor na MPB”.

3) Porém, o poeta não viu o LP finalizado. Vinicius morreu em julho de 1980, cerca de três meses antes do lançamento. “Já tinha muita coisa gravada, mas ele não vê o álbum pronto”, explica Daniel Gil.

Contracapa criada por Elifas Andreato

4) O pesquisador conta que o disco foi uma “explosão”: “vendo matérias da época na Biblioteca Nacional, me parece que em três meses o álbum vendeu coisa de 200 mil exemplares na época, foi um estouro”.

5) Para Gil, o disco parece ter sido um “precursor de um boom de discos e músicas produzidos pra crianças, o que não era uma coisa tão normal na época. Eu poderia arriscar dizer que foi o sucesso da Arca de Noé que deu um certo otimismo para esse tipo de investimento”.

6) A arca foi o trabalho que apresentou Toquinho a Vinicius, quando o disco foi lançado na Itália, iniciando a parceria que o poeta levaria até o fim de sua vida. 

Encarte criado por Andreato para recortar e criar uma versão personalizada da capa de "A arca de Noé"

7) As capas dos discos foram desenvolvidas pelo designer gráfico e ilustrador Elifas Andreato, que inovou com um encarte que trazia desenhos dos bichos para recortar e colar em uma capa em branco, criada pela criança.

8) O álbum ganhou uma versão atualizada em 2013, produzida por Suzana Moraes, filha mais velha do poeta. Mais uma vez, a produção reuniu artistas de peso, como Zeca Pagodinho, Gal Costa, Maria Bethânia, Caetano e Moreno Veloso, Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Adriana Calcanhoto, Ivate Sangalo e Chitãozinho & Xororó.

Para conhecer as versões originais do álbum "A arca de Noé", é só clicar aqui!

 


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