ERRATA: "Trincheira tropical", de Ruy Castro
Errata no livro "Trincheira tropical", de Ruy Castro, que narra a Segunda Guerra Mundial no Rio

Enrique Vila-Matas está de volta. Mac e seu contratempo é o seu novo romance, lançado em agosto no Brasil. Trata-se da história de Mac, um barcelonês de meia-idade, desempregado, que vive às custas da mulher, e que decide reescrever um livro – o primeiro livro de um escritor de sucesso que, por acaso, é seu vizinho.
Como sempre em Vila-Matas o que está em jogo são as leituras, a escrita, os livros dentro de livros. “Mac é alguém que se dedica a ler e modificar tudo o que lê”, diz o catalão. Abaixo, convidamos quatro escritores brasileiros, e leitores de Vila-Matas – Carola Saavedra, Paulo Roberto Pires, João Paulo Cuenca e Antônio Xerxenesky –, para fazerem perguntas sobre livros e escritores para o escritor dos escritores.
Antônio Xerxenesky: Enrique, boa parte de suas obras dialoga com o modernismo europeu: Walser, Perec, Duras, Joyce. O que mantém essa literatura do início do século XX tão viva até hoje e dialogando com seus textos tão contemporâneos?
Caro Antônio, a literatura está sempre em outro lugar, ela fala do mundo que lhe é contemporâneo sem falar dele. Esta é a lição de Walser, Perec, Duras, Joyce. A linguagem não é algo que representa a realidade, mas algo que a faz e desfaz a partir de uma irrevogável subjetividade. Quando a literatura fala do mundo de um jeito representativo ela se relaciona com o texto jornalístico ou sociológico, e essa é a grande debilidade de grande parte da literatura dos nossos dias: às vezes ela se esquece que é um dos únicos lugares onde podemos nos permitir não ser contemporâneos – e, assim, ser contemporâneos.
Carola Saavedra: Em “Teses sobre o conto”, Ricardo Piglia diz que toda narrativa breve tem uma história secreta, o que de certa forma poderíamos estender também para o romance, e quem sabe, num exercício de imaginação, para a literatura de todo um período ou país. Qual seria a história secreta que percorre a sua obra?
Carola, uma dessas histórias secretas poderia ser a história de uma dúvida: a que tive no início de tudo entre escrever e não escrever. Depois, quando já escrevia, a dúvida constante era entre o desprezo (e a consequente renúncia da escrita) e a fé na literatura (e a consequente alegria). Dito de outra maneira: por um lado, uma tendência a lançar-me sobre a minha própria sombra; por outro, a distância etérea em direção à qual se quer ascender e para qual se escreve.
Paulo Roberto Pires: Enrique, a partir de suas crônicas conheci alguns escritores – me vêm à cabeça a suíça Fleur Jaeggy e a Elizabeth Smart de By Grand Central Station I Sat Down and Wept – e passei a olhar diferente para outros, principalmente o Jules Renard dos diários. Eu imagino esses autores como parte de um cânone shandy. Como você definiria esse cânone, sem dúvida portátil e idiossincrático?
Como uma alternativa aos cânones oficiais. E como uma aproximação pouco usual a certos escritores consagrados, pois quando falo de Kafka, por exemplo, falo não do Kafka em que normalmente se pensa, mas do escritor privado cujas cartas eram lidas pelas infelizes Milena e Felice. Sem ter muita consciência disso, dupliquei Georges Perec. E me conectei a Fernando Pessoa através de Robert Louis Stevenson que no final de seu O médico e o monstro anunciava que um dia o homem seria “reconhecido como uma reunião de personalidades diversas, discrepantes e independentes”. Eu poderia agora elencar outros autores, mas lembre-se que o cânone é longo e a vida é curta.
João Paulo Cuenca: Caro Enrique, estamos ainda vivos ou tudo isso não passa de literatura?
Caro João, a vida é o que nos acontece porque temos a literatura.
Enrique Vila-Matas nasceu em Barcelona, em 1948. Autor de diversos títulos que incluem romances, contos e ensaios, além de textos híbridos que mesclam diferentes gêneros, sua obra recebeu prêmios como o Herralde e o Rómulo Gallegos e foi traduzida para mais de trinta idiomas. Entre seus principais livros estão Bartleby e companhia, História abreviada da literatura portátil, Suicídios exemplares e Doutor Pasavento.
Errata no livro "Trincheira tropical", de Ruy Castro, que narra a Segunda Guerra Mundial no Rio
be rgb compartilha sobre seu processo ao longo da tradução de "O tempo das cerejas"
Meritxell Hernando Marsal compartilha sobre os desafios do processo de tradução de "O tempo das cerejas"