6 livros para entender a Semana de Arte Moderna

15/12/2021

O ano de 1922 no Brasil foi marcado por uma série de acontecimentos de grande influência histórica. O levante tenentista do Forte de Copacabana, a fundação do Partido Comunista do Brasil (PCB) e a primeira transmissão radiofônica no país anunciaram que o século XX chegava para ficar. Mas nenhum desses eventos se fixou em nosso imaginário sociocultural com o alcance e a profundidade da Semana de Arte Moderna de 11 a 18 de fevereiro no Theatro Municipal de São Paulo.

Em meio ao momento político e social turbulento, influenciados pelas vanguardas europeias, os representantes do modernismo prezavam pela experimentação a fim de representar melhor o Brasil nas obras artísticas.  Poesias, músicas, artes plásticas, esculturas e maquetes de arquitetura ganharam uma nova perspectiva estética.  

A polêmica foi desde o começo uma das molas propulsoras do modernismo paulista, eivado de intrigas e rupturas — como toda vanguarda artística que se preze, o movimento foi marcado por grandes nomes como os dos escritores Oswald de Andrade e Mário de Andrade que, ao lado do artista plástico Di Calvacanti, organizaram a semana de arte moderna. O escritor Ronald de Carvalho e os pintores Zina Aita e Vicente do Rego Monteiro são também alguns dos muitos artistas que contribuíram para a introdução do Modernismo no país.

Um século depois, o mito fundacional da Semana de 1922, por muitos anos incensado por setores da intelectualidade brasileira, é objeto de novas abordagens, que revisitam o movimento e a sua produção artística em suas contribuições e contradições.

Para refletir sobre o impacto da semana e o legado modernista, a Companhia das Letras preparou uma programação com lançamentos que abarcam uma vasta gama de temas relacionados a esse importante marco na história da arte brasileira e a seus protagonistas. Seis livros que vêm à luz para compor esse debate em constante construção:

1. Modernismos 1922-2022

Capa Modernismos

Explorando o centenário em dimensão crítica, Modernismos 1922-2022 enfeixa 29 ensaios sobre a Semana de 22, seus antecedentes e desdobramentos, privilegiando novas interpretações sobre os bastidores do modernismo paulista e a longeva repercussão de seus manifestos e produções. Organizado por Gênese Andrade, com consultoria de Jorge Schwartz, o livro reúne autores consagrados em diversos campos da crítica. Literatura, música, artes visuais, moda, urbanismo, sexualidade, raça, gênero, política e outros temas compõem um panorama caleidoscópico da modernidade e sua fulminante, mas problemática inserção na cultura brasileira. O principal interesse da coletânea é entender o movimento modernista no Brasil para além da mitificada imagem histórica, de modo a esmiuçar suas contradições e seus impasses.

2. Diário confessional

Capa Diário confessional

Os cadernos inéditos de um dos protagonistas do modernismo. A personalidade titânica de Oswald de Andrade transparece nas páginas do Diário confessional, documento inédito da intimidade do autor de Marco Zero. Escrito à mão em dezenas de cadernos entre 1948 e 1954, ano da morte do escritor, o registro cotidiano de acontecimentos pessoais e familiares se mistura a uma constelação de reflexões sobre filosofia, literatura e arte, temperadas com ironia ferina. Com organização de Manuel da Costa Pinto, o livro inclui fragmentos sobre a Semana de Arte Moderna no teatro municipal, num balanço retrospectivo realizado trinta anos depois, e o inacabado A antropofagia como visão do mundo, ensaio ambicioso que Oswald planejou como suma teológica de sua obra.

3. Serafim Ponte Grande

Capa Serafim Ponte Grande

Um dos marcos do modernismo, Serafim Ponte Grande mistura ironia, rebeldia e experimentação formal em um livro que desafia as classificações de gênero. Este romance-chave de Oswald de Andrade, contém o projeto de reedição da obra completa do escritor paulistano, iniciado em 2016. Esse livro híbrido de prosa e poesia, concluído em 1928 e publicado cinco anos depois, corresponde ao momento mais radical da produção oswaldiana. Sua escrita antropofágica, que devora as estruturas narrativas tradicionais, trepida numa vibração cubista, futurista e expressionista, cristalizada em “estilo telegráfico”. O volume é enriquecido por quatro ensaios críticos sobre o romance e sua posição singular no cânone da ficção brasileira.

4. Parque industrial

Marco inegável da literatura brasileira, Parque industrial é uma reflexão brutal sobre classe, gênero, poder e desejo. Publicado sob pseudônimo em 1933, mesmo ano de Serafim Ponte Grande, Parque industrial assinala a estreia literária de Patrícia Rehder Galvão, a Pagu. A obra mergulha na difícil realidade da classe operária em São Paulo, sendo atravessada pelo credo comunista que a autora e Oswald, seu então marido, abraçaram em 1931. Protagonizado por um coletivo de trabalhadoras da indústria em ascensão, o romance denuncia a opressão machista e racista contra as mulheres proletárias e antecipa muitas questões levantadas pela luta feminista nas décadas seguintes. O prefácio foi escrito por Geraldo Galvão Ferraz, filho de Pagu e especialista em sua vida-obra.

5. O guarda-roupa modernista

Em O guarda-roupa modernista, Carolina Casarin se debruça sobre o vestuário dos protagonistas do alto modernismo, com destaque para o casal Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. A partir de fotos e documentos da época, além de peças de roupa, cartas, retratos, autorretratos e textos literários, a autora examina os figurinos mais icônicos para analisar as relações entre a indumentária e a imagem social projetada pelas figuras de proa do movimento. Através de uma abordagem inovadora, o livro mostra que Oswald e Tarsila, membros da alta sociedade paulistana, conheciam muito bem o valor da moda e das aparências em seu processo de afirmação como artistas, no Brasil e na Europa.

6. Modernidade em preto e branco

Na contramão dos festejos acríticos, Modernidade em preto e branco, de Rafael Cardoso, explicita as tensões políticas, raciais e sociais por trás das representações triunfalistas. Num desvio estratégico, o livro investiga os primórdios do modernismo no Rio de Janeiro, onde floresceu uma vertente pioneira de inovações na imprensa, nas artes gráficas e na música popular. As produções cariocas, distanciadas do estrépito paulistano, expõem uma face influente, mas ainda obscura do movimento modernista brasileiro. Originalmente publicado em inglês pela prestigiosa Cambridge University Press, o livro foi reescrito em português para incluir novas referências e reflexões. Modernidade em preto e branco oferece ao leitor não só um novo entendimento a respeito de um dos principais movimentos artísticos do país, mas também uma janela para compreender a primeira metade do século XX.

Todos os títulos já estão em pré-venda nas lojas on-line, com lançamentos previstos para janeiro e fevereiro de 2022.

 

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